TRAGÉDIA DIANTE DO MUNDO

Autoimolação: O ato extremo do soldado dos EUA que, em chamas, chocou o mundo

Gritando “Palestina Livre”, jovem de 25 se incendiou como protesto. Atitude, uma forma de suicídio, tem largo histórico e decorre também de problemas na saúde mental

Aaron Bushnell, o jovem norte-americano da Força Aérea que se autoimolou.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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**ATENÇÃO: A Fórum tem a política de ser transparente com seus leitores, publicando casos de suicídio e fazendo alertaS sobre a necessidade de se buscar ajuda em situações que possam levar a pessoa a tirar a própria vida.

Se você tem ideações do tipo e precisa de ajuda ou informações, há meios acessíveis que fornecem apoio emocional e preventivo ao suicídio. Confira abaixo:

Centro de Valorização da Vida (CVV) – 188 (ligação gratuita).

CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde);

UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro;

Hospitais.

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Aaron Bushnell tinha apenas 25 anos. Soldado da Força Aérea dos EUA, ele encharcou o corpo com gasolina no último sábado (24), fardado, em frente à embaixada de Israel em Washington, e se incendiou, gritando alucinadamente de dor e pânico “Palestina Livre”. Um claro protesto contra o morticínio promovido pelo Estado judeu contra os habitantes da Faixa de Gaza, o estreito território palestino sob intenso e massivo bombardeio israelense, onde quase 30 mil civis perderam a vida em quatro meses, a maioria mulheres e crianças.

A cena brutal e chocante do rapaz sendo consumido por grossas labaredas e urrando pelo sofrimento físico autoimposto, acrescido de uma frase de revolta total, circulou o planeta e chocou a todos. O ato, cujo nome é “autoimolação” (matar-se ateando fogo a si próprio) é uma prática antiga e muito conhecida, especialmente realizada por quem protesta contra uma causa para a qual não vê saída e julga ser uma injustiça total.

É muito difícil precisar quando tal forma de suicídio foi praticada inicialmente e principalmente como um ato de protesto. No entanto, registros do século XX mostram que a autoimolação foi usada por cidadãos de vários países como um instrumento de pressão em favor de uma causa. Um caso emblemático e antigo é o do monge vietnamita Thich Quang Duc, que em protesto contra a política religiosa restritiva de Ngo Dinh Diem, no então Vietnã do Sul, em 1963, colocou fogo no próprio corpo durante uma expressiva manifestação em Saigon, atraindo os olhares do mundo inteiro para a dantesca cena das chamas o consumindo vivo.

Nos EUA, um episódio que se tornou muito conhecido foi o de Norman Morrison, um sujeito quaker (integrante de uma espécie de seita protestante com hábitos muito restritivos de convívio) que apenas entregou sua filha bebê de um ano a um estranho, e se autoimolou usando uma garrafa de querosene bem embaixo da janela do gabinete do então secretário de Defesa dos EUA, Robert McNamara, no prédio do Pentágono, em Washington. Ele queria protestar contra Guerra do Vietnã.

No ano de 2011, uma verdadeira onda de autoimolação varreu o Tibete, uma região pertencente à China e que está localizada numa zona montanhosa do Himalaia, conhecida pelos monges budistas e por ser historicamente o local onde deveria viver o líder religioso desse credo, o Dalai Lama (que há décadas vive na Índia exilado). Foram oito jovens que, ao chegarem em manifestações convocadas para afrontar o que eles chamavam de “políticas religiosas restritivas de Pequim”, simplesmente colocavam fogo no próprio corpo diante dos fotógrafos e cinegrafistas, como forma de protesto.

Em todos os casos, é preciso ficar muito claro que a decisão de tirar a própria vida, de maneira planejada, e de forma que implicará em gravíssimo sofrimento físico, é um ato decorrente de um sério problema de saúde mental, como em praticamente todos os casos de suicídio. Parece plausível que alguém nessa condição psíquica possa também mesclar sentimentos fortíssimos de frustração ou de ódio, que quando são oriundos de uma “causa”, podem servir como pano de fundo, ou “justificativa”, para uma medida tão extrema. No caso de Aaron Bushnell, não informações ainda sobre um histórico de sofrimento mental por parte do rapaz, que apenas era referido por amigos, da vida pessoal e de trabalho, na Força Aérea, como um sujeito bondoso, preocupado e o tempo todo preocupado em ajudar as pessoas.