Representantes de partidos que se reúnem no bloco de esquerda do Parlamento europeu detonaram hoje o anúncio do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, depois de 25 anos de negociações.
Os pontos-de-vista expressos falam em prejuízos em potencial para os pequenos agricultores europeus.
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"A conclusão do acordo de livre comércio com o Mercosul é uma vergonha absoluta para a UE. Isso impactará fortemente os agricultores que já estão lutando para sobreviver, representará um risco enorme para a saúde dos cidadãos e destruirá o clima", argumentou Manon Aubry, do França Insubmissa.
As referências à saúde ecoam as denúncias de que os produtos do Mercosul não atenderiam às mesmas exigências sanitárias da UE, o que o Brasil rejeita com veemência.
Luke Flanagan, do Partido Independente da Irlanda, acrescentou:
Este é um acordo feito a mando de multinacionais para facilitar sua exploração global de recursos naturais e trabalho humano e ganho financeiro para poucos. Um dos setores mais impactados será a agricultura extensiva, nas regiões periféricas da UE, que não conseguirá competir com as economias de escala e a base de custo mais baixa dos concorrentes nos países do Mercosul.
Em uma carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o grupo já havia dito:
"Os fazendeiros [europeus] suportarão um fardo pesado, pois serão expostos à crescente concorrência desleal das gigantescas fazendas industriais do Mercosul. Conforme a última versão conhecida do texto, o Mercosul poderá, por exemplo, exportar para a UE cotas adicionais de 99.000 toneladas de carne bovina, 180.000 toneladas de aves, 25.000 toneladas de carne suína, 35.000 toneladas de queijo, 190.000 toneladas de açúcar e 45.000 toneladas de mel por ano".
Agronegócio o grande beneficiário
O acordo também vem sendo alvo de críticas de movimentos populares do Brasil, como o MST.
Para Jaime Amorim, da coordenação nacional, o Brasil e outros países do Mercosul serão definitivamente aprisionados pela monocultura extensiva e pela pecuária.
Segundo ele, as economias da América do Sul ficariam presas em quatro setores econômicos, o que seria equivalente à 'recolonização':
Das commodities de produção agrícola, pecuária, minérios e celulose, o que ajudaria em um futuro aquecimento das indústrias europeias.
Embora o acordo tenha sido anunciado, precisa ser aprovado pelos Parlamentos. Basta a rejeição em quatro países europeus para afundar o projeto.
França e Polônia são fortes candidatos a rejeitar o acordo nos termos atuais.
Resposta a Donald Trump
Em Bruxelas defensores do projeto falam em economia anual superior a U$ 4 bilhões em tarifas para os exportadores, formando um mercado comum com 800 milhões de habitantes e 25% do PIB global.
Apontam para o fato de que cairiam em 91% no Mercosul tarifas hoje impostas a produtos industriais da Europa -- 35% em automóveis, 18% em químicos e 35% em sapatos de couro, por exemplo.
Do ponto-de-vista geopolítico, o acordo é uma resposta ao anunciado isolacionismo do presidente eleito Donald Trump, que antes mesmo de assumir prometeu guerra de tarifas contra os Brics, México, Canadá e até contra produtos exportados através do recém-inaugurado porto do Peru construído pela China.
Falando em Montevidéu, von der Leyen afirmou:
Sei que sopram ventos fortes na direção oposta, em direção ao isolamento e à fragmentação, mas este acordo é a nossa resposta clara.
Sofrendo oposição à direita e à esquerda, o acordo dificilmente entrará em vigor no médio prazo.
O bloco de esquerda no Parlamento europeu chegou a promover um seminário sobre o assunto, que intitulou: "Transição verde ou colonialismo verde? O acordo EU-Mercosul e a agenda neoextrativista na América Latina".