Em novembro de 2024, após a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, Mauricio Claver-Carone, que já foi presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (2020-2022) e hoje integra o time de transição de Trump na Casa Branca, sugeriu que uma tarifa de 60% fosse cobrada sobre produtos chineses que chegassem aos EUA através do megaporto de Chancay, no Peru.
Chancay, um terminal portuário de alta capacidade na província de Huaral, a 60 quilômetros de Lima, dá acesso ao Pacífico, de onde escoa produtos para a Ásia, de commodities minerais a produtos alimentícios, e torna o trajeto para o Oriente até um terço mais curto.
Te podría interesar
Ele foi inaugurado, ainda em novembro, pelo presidente chinês, Xi Jinping, obra de uma empresa chinesa em parceria com o governo do Peru e parte do pacote de investimentos para a iniciativa chinesa de Um Cinturão, Uma Rota (One Belt, One Road), a "Nova rota da seda".
Claver-Carone, da administração trumpista, sugeriu aplicar a nova política de taxações do governo recém-eleito sobre produtos chineses e latino-americanos que trafeguem pelo megaporto em direção aos EUA, a fim de "retaliar" o investimento de Pequim na construção da infraestrutura.
Te podría interesar
As taxações diretamente aplicadas sobre a China já têm aumentado significativamente nos últimos meses, especialmente sobre produtos de alta tecnologia.
"Qualquer produto passando por Chancay ou qualquer outro porto que pertença ou seja controlado pela China na região deve estar sujeito a uma taxa de 60%, como se o produto fosse chinês", sugeriu Claver-Carone.
Diante das novas ameaças de "tarifaço" por parte dos EUA, como aquela que se sucedeu à iniciativa de criação de um novo sistema de pagamentos para o Brics em alternativa ao dólar, o Ministro de Relações Exteriores do Peru, Elmer Schialer, disse durante uma coletiva de imprensa em Lima que tratará a questão com "grande atenção", mas também "com serenidade".
Ele deve esperar até 20 de janeiro, após a posse de Trump, para avaliar as reais medidas do governo. De acordo com Schialer, o Peru tem "oportunidades de investimento suficientes" para os EUA.
A ministra de Comércio Exterior e Turismo do país, Desilú León, disse, por sua vez, que, embora os EUA esteja "convidado" a usar o Porto de Chancay, não é um dos países que se beneficiariam do uso. "Outros países vão usar nosso porto para navegar diretamente para a Ásia”, disse ela durante entrevista a uma rádio local. "O fato de que o estrategista [de Trump] indicou que tarifas vão ser impostas àqueles que passarem pelo porto não deve nos afetar de forma direta", completou.
Isso porque o porto oferece uma linha direta ao comércio com a Ásia — países como o Brasil podem, portanto, importar e exportar produtos do continente asiático passando por Chancay sem cruzar o território norte-americano.