BRICS

A dura resposta da Rússia às ameaças desmedidas de Donald Trump contra o BRICS

Diante de uma série de declarações raivosas do futuro presidente dos EUA em oposição à autonomia do Brics, a Rússia envia um recado duro e definitivo

Créditos: Divulgação / Itamaraty
Escrito en GLOBAL el

No último sábado (30/11), o recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou, em diversas publicações afetadas na rede social X, aplicar “tarifas de 100%” sobre os países do Brics (cujos principais membros são Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), caso não abandonem seus planos de criar um sistema de pagamentos próprio e uma moeda comum do bloco — alternativa ao dólar — para as suas transações. 

Leia também: Cúpula do Brics: grupo discute adoção de sistema de pagamentos 'alternativo ao dólar' | Revista Fórum

Durante a Cúpula do Brics, ocorrida em Kazan, na Rússia, entre os dias 22 e 24 de outubro de 2024, o grupo teria discutido a adoção de um sistema de pagamentos independente, em alternativa ao SWIFT — algo que dois membros do grupo, Irã e Rússia, já conseguiram estabelecer em suas relações bilaterais. 

Leia também: Fim do dólar? Potência do Brics anuncia moeda digital e surpreende | Revista Fórum

Às ameaças de Trump, que chegou a afirmar que o grupo de potências emergentes não se manteria em pé sem as regalias do sistema-dólar, o representante do Kremlin russo, Dmitry Peskov, respondeu assim: 

"O dólar está começando a perder sua atratividade como uma moeda de reserva para muitas nações". A declaração, dada na segunda-feira (2), conforme noticiado pela RT, ainda nota que o movimento é geral: a maioria dos Estados que sofre com a "transformação dos sistemas financeiros em armas" (isto é, com a política de sanções norte-americanas) tem buscado alternativas para seu comércio multilateral, enfatizou Peskov.

O novo sistema de pagamentos idealizado pelo Brics é uma possibilidade muito mais próxima e mais realizável do que a adoção de uma unidade de conta inteiramente nova, iniciativa que também já foi sugerida pelo grupo. 

À época do encontro do grupo, em outubro, a diretora do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, chegou a se manifestar dizendo que o FMI precisaria "ver mais detalhes" sobre a proposta de um novo sistema de pagamentos dissociado do dólar, mas que essa "não é uma ideia nova" — como sugeriu o porta-voz de Putin —, nem sequer seria, necessariamente, uma ameaça à instituição. 

Mas não é o que pensa Trump: esse seria, sim, um ataque direto à soberania do dólar como moeda de referência internacional — e principalmente à influência dos EUA na geopolítica mundial, que atua principalmente sob sua política amplamente difundida de empregar sanções de natureza econômico-financeira como arma contra seus inimigos. 

Foi Willian Taft, sucessor de Theodore Roosevelt, que instituíra, no começo do século XX, a "diplomacia do dólar" como instrumento político de influência norte-americana, à época aplicado no financiamento, por parte dos EUA, de uma série de empréstimos a economias latino-americanas primário-exportadoras.

A diplomacia do dólar consistira, então, em firmar uma dependência econômica e décadas de submissão financeira a instituições do mundo dolarizado, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, além de colocar economias em desenvolvimento sob a tutela dos interesses econômicos dos EUA.

Agora, o que Putin chamou de "a criação de uma nova ordem multipolar" englobaria os países do Brics num possível sistema integrado e desvinculado do dólar, em que Índia e a China, as duas maiores economias do mundo em termos demográficos e em potencial de expansão, estariam, de uma maneira significativa, "fora da alçada" norte-americana, e a Rússia encontraria um passe livre para exercer sua influência como potência não-alinhada ao Ocidente. 

Com as indefinições no acordo União Europeia - Mercosul, além disso, os polos emergentes e sua união seriam uma ameaça ainda mais contundente, em detrimento de parcerias de livre-mercado com as potências ocidentais, que não têm se mostrado colaborativas.

Nessa "nova ordem", os EUA parecem gradualmente perder sua relevância como potência hegemônica, e o Sul Global logrou alcançar níveis de desenvolvimento autossustentáveis e instrumentos suficientemente dissuasivos no campo militar.


 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar