Uma investigação do Comitê de Saúde, Educação, Trabalho e Previdência do Senado dos Estados Unidos, liderado pelo senador Bernie Sanders, está acusando a Amazon de colocar seus trabalhadores em risco por conta do cumprimento de metas de produtividade. A apuração também aponta que a maior varejista on-line estadunidense manipulava dados sobre acidentes de trabalho para retratar seus armazéns como mais seguros do que realmente são.
Foram analisados sete anos de dados sobre acidentes de trabalho na companhia e a equipe do Comitê entrevistou mais de 130 trabalhadores da Amazon durante 18 meses de trabalho, e se reuniu com quase 500 pessoas que compartilharam cerca de 1.400 documentos. A empresa deu ao comitê 285 documentos, ou menos de um quarto do que foi solicitado, de acordo com o relatório.
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Os dados da gigante do varejo mostraram que seus armazéns têm taxas de acidentes "significativamente mais altas" do que a média do setor e de armazéns não pertencentes à companhia, que alega o contrário.
No período analisado, os trabalhadores da Amazon tiveram quase o dobro de probabilidade de se ferir em comparação aos trabalhadores de outros armazéns do setor.
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Metodologia questionada
O relatório pontuou que a empresa compara seus armazéns de todos os tamanhos à média apenas dos grandes armazéns, que têm mais de 1.000 funcionários e são estabelecimentos que tendem a ter maiores taxas de lesões, fazendo com que a taxa de lesões da companhia pareça menor. No entanto, muitos de seus armazéns têm menos de 1.000 pessoas trabalhando.
"Se a taxa de acidentes nos armazéns da Amazon fosse comparada à taxa média de acidentes de todos os armazéns do país — em vez de apenas aqueles incluídos na subcategoria preferida da empresa — o histórico de segurança da Amazon pareceria muito mais preocupante", concluiu a investigação.
"É mais do que inaceitável que a Amazon, a segunda maior corporação dos Estados Unidos, de propriedade de Jeff Bezos, a segunda pessoa mais rica do planeta, continue colocando seus enormes lucros à frente da saúde e segurança de seus trabalhadores", disse Bernie Sanders em seu perfil no X, ex-Twitter.
Também na rede social, Sander postou um vídeo com a história de Denise, que quebrou o tornozelo trabalhando na Amazon. Segundo o senador, a empresa a demitiu enquanto ela estava em licença médica aprovada, com o marido também sendo demitido na sequência. Confira a história abaixo.
A Amazon diz ter cooperado com a investigação apesar da "narrativa preconcebida" de Sanders e que um convite para o senador visitar uma de suas instalações não foi respondido.
Metas de produtividade
De acordo com o Comitê presidido por Bernie Sanders, a Amazon elaborou um estudo interno, chamado de Projeto Elderwand, em 2021, e sua equipe de saúde e segurança calculou um limite para o número de movimentos repetidos que um trabalhador poderia fazer ao escolher itens de unidades de prateleiras robóticas antes de os índices de lesões aumentarem.
A conclusão era de que os funcionários poderiam manipular 216 itens por hora, em um turno de 10 horas, mas usualmente esse limite era ultrapassado por conta das metas de produtividade, com uma média de 266 itens por hora. Em vista disso, o estudo recomendou que a empresa usasse um software para monitorar o ritmo dos trabalhadores e exigir pausas adicionais que limitassem o número de movimentos repetidos.
Outro estudo interno, conhecido como Projeto Soteria, funcionou entre 2020 e 2022, e foram encontradas mais evidências de que um ritmo de trabalho mais rápido levava a uma taxa maior de lesões. A equipe de pesquisadores recomendou que a empresa suspendesse as punições para funcionários que não cumprissem suas metas e que desse aos funcionários mais tempo de folga do trabalho, o que reduziria a taxa de lesões.
Segundo os documentos descobertos pela apuração, os executivos da Amazon rejeitaram as recomendações por estarem preocupados que a execução das orientações poderia reduzir a produtividade nos armazéns ou prejudicar a "experiência do cliente".
Com informações da NPR