O pesadelo da China é ficar sem os minérios dos quais sua indústria depende para "abastecer" o planeta de mercadorias.
É uma das explicações para a recente aquisição, pela China Nonferrous Trade, da mina de Pitanga, no Amazonas, que era controlada por uma família de bilionários do Peru.
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Nas redes sociais, os bolsonaristas transformaram o episódio numa grave ameaça à segurança nacional brasileira, por envolver supostas reservas de urânio.
O repentino "nacionalismo" contradiz com a postura de Jair Bolsonaro, que já bateu continência à bandeira dos Estados Unidos.
Os principais produtos da mina comprada pelos chineses, processados em Pirapora do Bom Jesus, no interior de São Paulo, são o estanho e ligas de ferro-tântalo, ferro-nióbio e ferro-nióbio-tântalo.
A China tem um déficit na produção de estanho, com dependência de importações de cerca de 30% do consumo prevista para a próxima década.
O estanho tem uso variado na indústria, especialmente nas soldas.
A empresa comprada pelos chineses no Brasil produziu 5.386 toneladas de estanho refinado e 4.410 toneladas de ligas em 2023.
Apetite voraz
A China consome cerca de 45% de todo o estanho produzido no mundo.
A Associação Internacional do Estanho diz que a demanda tem crescido no país para soldagem de produtos eletrônicos, equipamentos ligados à produção de energia solar e veículos elétricos.
A estatal chinesa controladora da empresa que comprou a mina de Pitanga no Brasil, pelo equivalente a R$ 2 bilhões, é uma gigante que já tem minas na Zâmbia, Tailândia, Laos e Mongólia.
O terror de longo prazo da liderança chinesa, como já dito, é ficar sem acesso a minerais ou à mercê de estrangeiros na formação dos preços internacionais.
Isso ajuda a explicar os variados investimentos de empresas chinesas em praticamente todos os continentes e parcerias que, na superfície, poderiam parecer contraditórias.
Um exemplo: a China National Offshore Oil Corporation (com 25%) é parceira de duas empresas estadunidenses, a Exxon (45%) e a Hess (30%), num dos maiores blocos de exploração de petróleo dos dias de hoje, o Stabroek, na Guiana.
Como maiores consumidores de petróleo do planeta, Estados Unidos e China tem o interesse comum de manter os preços estáveis.
A verdadeira guerra dos minérios
A verdadeira guerra dos minérios hoje em andamento tem como base tentativas do Ocidente de frear o acesso da China a tecnologias e mercados que permitam escala à indústria chinesa.
Os EUA impuseram limitações à exportação de semicondutores, além de sancionar duas gigantes chinesas, a empresa de telecomunicações Huawei e a SMIC.
A Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC) é a maior fabricante chinesa de semicondutores.
Em resposta a isso, em 2023 os chineses passaram a controlar de perto as exportações dos 17 metais das chamadas terras raras.
Os mais importantes são o germânio e o gálio. A China controla 98% da produção deste último mineral.
O Centro de Análise da Política Europeia (CEPA), ao analisar a decisão chinesa, observou que o Ocidente é vulnerável a eventual boicote, mas no longo prazo:
O gálio é crucial para a fabricação do composto químico arsenieto de gálio, que pode fazer chips de radiofrequência para celulares e comunicação via satélite. Ligas semicondutoras feitas com arsenieto de gálio podem operar em frequências e temperaturas mais altas do que o silício. Elas também produzem menos ruído do que dispositivos de silício, especialmente em altas frequências operacionais, tornando-as úteis em radares e dispositivos de comunicação de rádio, satélites e LEDs.