Um conhecido humorista estadunidense disse recentemente que o mundo político está de pernas para o ar nos EUA.
Quem imaginaria que a democrata Kamala Harris faria campanha com a ex-congressista republicana Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, o homem que sob George W. Bush empurrou os Estados Unidos para a invasão do Iraque em 2003?
Que Cheney, talvez o mais poderoso vice-presidente da História dos EUA, daria apoio a Kamala em 2024?
Que Cheney, que um dia foi o representante dos grandes conglomerados do petróleo e gás na Casa Branca cederia o lugar anos depois a Trump, que agora promete "furar, baby, furar" o solo como nunca, em busca do que chama de "ouro líquido", em plena era do aquecimento global?
Com o objetivo de conquistar conservadores que rejeitam Trump, Kamala Harris engajou a ex-deputada Cheney em sua campanha, com várias aparições conjuntas.
Porém, talvez não contasse com a cara-de-pau e a astúcia de Trump.
"Matadora de árabes"
O republicano, um apoiador de Israel mais radical até que a democrata, acusou Liz Cheney, nos seus mais recentes discursos em Michigan -- um deles no sábado, 26 -- de ser odiadora de muçulmanos e de ter apoiado a morte de milhões de árabes no Oriente Médio.
Michigan é o estado com a maior população árabe dos Estados Unidos. Contando com os imigrantes originários do norte da África, são 300 mil muçulmanos, que ajudaram a dar os votos do estado no Colégio Eleitoral a Joe Biden, em 2020, por uma diferença de 155.188 votos.
No condado de Wayne, onde fica a cidade de Dearborn, de maioria árabe, governada pelo prefeito democrata Abdullah H. Hammoud, Biden teve 68% dos votos.
A pesquisa mais recente no estado mostra Trump e Kamala empatados em 47%. Em relação a 2020, 13% dos eleitores de Biden migraram para Trump, com apenas 8% deixando o republicano para apoiar Kamala.
Existe uma grande frustração local com o governo Biden, que nada fez de prático para impedir o genocídio em Gaza ou os ataques que agora estão matando civis no Líbano.
O prefeito Hammoud, de Dearborn, filho de imigrantes libaneses, foi o primeiro muçulmano a ser eleito para dirigir uma cidade importante dos EUA, de cerca de 100 mil habitantes.
Os eleitores árabes e muçulmanos estão especialmente revoltados com a maneira desdenhosa com que a democrata Harris trata quem faz manifestações pró-Gaza em seus comícios.
Kamala pede que as pessoas procurem os eventos de Trump, como se fossem democratas traidores do partido.