TEOLOGIA DE LUTO

Morre Gustavo Gutierrez, um dos pais da Teologia da Libertação

Teólogo peruano foi um dos responsáveis por revolucionar a igreja na América Latina

Gustavo Gutierrez, um dos pais da Teologia da Libertação.Créditos: Reprodução / Vaticano
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Gustavo Gutiérrez, padre e teólogo peruano conhecido como um dos fundadores da Teologia da Libertação, faleceu aos 96 anos na última terça-feira (22) em Lima, conforme anunciou a Província Dominicana de São João Batista do Peru. O velório será realizado na Casa Capitular do Convento de Santo Domingo, no centro histórico da capital peruana.

Legado e Contribuições

Gutiérrez, que se tornou membro da Ordem Dominicana aos 76 anos, revolucionou a teologia latino-americana com a criação da Teologia da Libertação (TdL). Ele propôs que a teologia deveria partir de uma mística e práxis, refletindo sobre o mistério de Deus a partir da experiência de fé e da realidade histórica de injustiças sociais. Sua abordagem inovadora introduziu o diálogo entre teologia e ciências sociais, destacando a importância de uma prática religiosa alinhada com a luta contra a pobreza e a injustiça.

Obra e Influência

Seu livro mais influente, "Teologia da Libertação: Perspectivas" (1971), resgatou a tradição dos profetas de Israel e o sofrimento de Jesus de Nazaré, relacionando-os com as lutas dos pobres contemporâneos. Outras obras notáveis incluem "Linhas Pastorais da Igreja na América Latina", "A Verdade Vos Libertará" e "Onde Dormirão os Pobres?".

Gutiérrez também fundou o Instituto Bartolomé de las Casas em Lima em 1974, um centro dedicado ao atendimento dos desfavorecidos, em homenagem ao frade dominicano do século XVI que defendeu os povos indígenas. Ele lecionou na Universidade Pontifícia do Peru e em diversas instituições internacionais, sempre defendendo uma teologia que integrasse salvação, libertação e desenvolvimento.

Controvérsias e Reconciliação com o Vaticano

A TdL de Gutiérrez, que colocou os pobres no centro da missão cristã, encontrou resistência durante o pontificado de João Paulo II e sob a liderança do cardeal Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI). A TdL foi criticada por sua suposta inclinação marxista, mas a eleição do Papa Francisco, o primeiro papa latino-americano, marcou uma reaproximação. Em 2013, Francisco convidou Gutiérrez para uma reunião no Vaticano, simbolizando uma reconciliação e um novo reconhecimento da importância de sua obra.

Gustavo Gutiérrez deixou um legado duradouro, influenciando teólogos e ativistas sociais em todo o mundo. Sua teologia, centrada na dignidade e na libertação dos pobres, continuará a iluminar o caminho da Igreja por um mundo mais justo e fraterno. Seus restos mortais serão sepultados no Convento de Santo Domingo, em Lima.

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