"As forças dos Estados Unidos já estão na região protegendo Israel e, para Israel, esta é potencialmente uma oportunidade única em uma geração para cuidar da grande ameaça do Irã das últimas décadas", declarou à rede Al Jazeera o analista Ali Vaez, do International Crisis Group, um think tank estadunidense dedicado a promover a paz.
Ele se refere à possibilidade de que, nos próximos dias, Israel ataque as instalações nucleares persas.
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Um ataque do gênero teria apoio bipartidário nos Estados Unidos, uma vez que a política de Barack Obama, de buscar aproximação com o regime iraniano, é vista hoje como eleitoralmente danosa.
Falta pouco mais de um mês para as eleições nos EUA e a democrata Kamala Harris condenou duramente o ataque do Irã contra Israel, na terça-feira, 1 de outubro:
Tenho certeza de que o Irã é uma força desestabilizadora e perigosa no Oriente Médio. Garantirei sempre que Israel tenha a capacidade de se defender contra o Irã e as milícias terroristas apoiadas pelo Irã.
Kamala diz isso porque foi Donald Trump quem autorizou o ataque dos Estados Unidos que matou o general Qasem Soleimani em Bagdá. Soleimani, um dos homens mais poderosos do Irã, era tido como o cérebro articulador do Arco da Resistência contra Israel.
Trump tem dito que a inépcia dos democratas, pela fraqueza de suas ações -- expressa na decadência física de Joe Biden -- pode levar o mundo à Terceira Guerra Mundial.
Presença reforçada
Biden autorizou hoje o reforço da presença militar dos EUA no Oriente Médio. Com o envio de mais alguns milhares de soldados, o número de tropas deve chegar perto de 45 mil. Além disso, foram despachados esquadrões de aviões de combate e de ataque F-15E, F-16, F-22 e A-10.
Mesmo depois do bombardeio do Irã, Israel anunciou que seguirá atacando o Hezbollah no Líbano.
A degradação das forças da milícia xiita é um incentivo para que Israel enfrente diretamente o Irã, uma vez que o Hezbollah era a garantia de Teerã contra uma ofensiva israelense a seu próprio território.
O New York Times, notável por suas posições pró-Israel, resumiu:
Depois de lançar uma campanha de bombardeio que matou o líder do Hezbollah e outros comandantes na semana passada, juntamente com uma invasão terrestre durante a noite de terça-feira, Israel enfraqueceu o Hezbollah, privando o Irã de grande parte de sua dissuasão contra um ataque israelense mais amplo, disse Danny Citrinowicz, oficial aposentado da inteligência israelense. “Israel tem muito mais liberdade do que em abril [quando houve o primeiro ataque iraniano a Israel], já que essencialmente não há mais ameaça do Hezbollah”, disse Citrinowicz.
Em outras palavras, uma ação punitiva de Israel diretamente contra solo iraniano dificilmente contará com uma resposta dos milhares de mísseis e homens do Hezbollah que antes Tel Aviv temia.
Hegemonia dos EUA em jogo
Lidar diretamente com o Irã permitiria, de fato, que Israel assumisse completo protagonismo no Oriente Médio, com apoio do Ocidente, degradando um país que é integrante dos BRICs e tem boas relações com a Rússia e a China.
Por tabela, Israel ajudaria os EUA numa de suas prioridades: o apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia.
Irã e Rússia mantém relações próximas e Teerã é um grande fornecedor de drones para a ofensiva russa na Ucrânia.
Em julho deste ano, o secretário de Estado Antony Blinken disse que o Irã estava próximo de obter o material nuclear necessário para fazer uma bomba atômica.
Blinken, então, reiterou que os EUA mantinham 600 sanções contra indivíduos e entidades iranianas e criticou Trump por se retirar de forma unilateral das negociações para conter suposto desenvolvimento do arsenal nuclear de Teerã em 2018.
Já naquele período, o governo de Benjamin Netanyahu criou grupos de trabalho para lidar com o risco de o Irã desenvolver a bomba atômica.
Nas circunstâncias políticas de hoje, com apoio completo dos Estados Unidos, é uma tentação para Israel -- sem o risco de uma retaliação considerável do Hezbollah -- atacar diretamente o Irã, buscando acima de tudo eliminar o potencial nuclear dos persas, o que resultaria em um equilíbrio regional completamente novo, favorecendo Israel.