A Aliança Global para Biocombustíveis, liderada pelo Brasil, Estados Unidos e Índia, os três maiores produtores nessa área, reúne outros 16 países e 12 organizações internacionais com o propósito de fomentar a produção sustentável e o uso de biocombustíveis no mundo e seguirá aberta a novas adesões.
Outro objetivo da aliança é alavancar economias em desenvolvimento do Sul Global, como parte de uma agenda de transição energética para fontes menos poluentes.
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O lançamento ocorreu no último domingo (9) em um evento paralelo à cúpula do G20 em Nova Deli, na Índia, que contou com a presença dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, dos EUA, Joe Biden, e do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
Pelas redes sociais, Lula destacou a relevância da Aliança Global para Biocombustíveis no enfrentamento à crise climática.
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O mundo está vendo a importância dos biocombustíveis, para substituir os combustíveis poluentes que aceleram a crise climática.
Transição energética
O lançamento da Aliança Global para Biocombustíveis é resultado de ambicioso programa nacional indiano de biocombustíveis, que inclui desde a próxima adoção de 20% de mistura de etanol na gasolina à fabricação de automóveis flex, além do desenvolvimento e produção de biocombustíveis de segunda geração.
No processo de desenvolvimento dessa política, Brasil e Índia trabalharam juntos tanto no nível governamental como no nível acadêmico, tecnológico e empresarial.
De acordo com dados da Agência Internacional de Energia, a produção global de biocombustíveis sustentáveis precisa triplicar até 2030 para que o mundo possa alcançar emissões líquidas zero até 2050.
Os biocombustíveis líquidos forneceram mais de 4% do total de energia para os transportes em 2022, mas seu uso ainda tem grande potencial de crescimento.
O uso de biocombustíveis na aviação e na navegação, para reduzir as emissões dos respectivos setores, aumentará ainda mais o consumo mundial e a necessidade de ampliação do número de fornecedores.
Sustentabilidade questionada
Há críticas históricas, principalmente vindas de países europeus, que têm questionado a real sustentabilidade dos biocombustíveis. Problemas como desmatamento para a abertura de novas áreas de plantio e o uso de terras destinadas à produção de alimentos são apontados como questões preocupantes associadas a essa produção.
A resistência histórica de países europeus aos biocombustíveis, frequentemente justificada pela preocupação com o desmatamento, também está relacionada ao interesse desses países em promover suas tecnologias, como os carros elétricos.
De um lado, os biocombustíveis têm tido seu potencial subvalorizado em comparação com outras opções mais caras, como carros elétricos. Os defensores da nova aliança argumentam que seu objetivo é promover a produção sustentável de biocombustíveis, compartilhando conhecimento e tecnologia de países como o Brasil e utilizando áreas já desmatadas.
Experiência brasileira
O Brasil ocupa a segunda posição como maior produtor de biocombustíveis no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Uma iniciativa brasileira que pode ser compartilhada é o RenovaBio, um programa criado pelo Ministério de Minas e Energia em 2016 que certifica a produção de biocombustíveis com base em suas reduções nas emissões de gases do efeito estufa, permitindo que os produtores comercializem créditos de carbono.
No Brasil, a gasolina já tem 27,5% de etanol em sua composição, e o governo está estudando aumentar esse percentual para 30%.
O Brasil produz e utiliza biocombustíveis há 40 anos, com excelentes resultados, especialmente na criação de empregos e na redução das emissões do setor de transporte.
O uso de biocombustíveis líquidos no mercado brasileiro já representa cerca de 20% do consumo energético do transporte, enquanto no mundo esse percentual é de apenas 4%.
Caso da Índia
Recentemente, a Índia também entrou para o pódio como terceiro maior produtor, após o governo Modi investir mais na opção de biocombustíveis. Esse processo contou com o apoio do governo brasileiro e do setor privado, estabelecendo acordos de cooperação.
Devido à rapidez desse avanço, o país antecipou sua meta de adicionar 20% de etanol à gasolina de 2030 para 2025, após já ter alcançado a meta de 10% no ano anterior.
A Índia é um grande produtor de cana-de-açúcar, que é uma das matérias-primas do etanol, e ao mesmo tempo é o maior importador de petróleo do mundo.
Portanto, a expansão do uso de biocombustíveis passou a ser vista como um trunfo significativo para a segurança energética do país e para economizar divisas.
Fator China
No caso da Índia, há um fator determinante para mergulhar na Aliança Global de Biocombustíveis. Em julho, o governo de Modi rejeitou proposta da chinesa BYD para construção de fábrica de carros elétricos e baterias no país.
O investimento seria da ordem de US$ 1 bilhão (quase R$ 5 bilhões) e realizado em parceria com a empresa local Megha Engineering. Negociações chegaram a acontecer, mas dirigentes do governo apontaram falta de confiança em relação ao chineses.
De acordo com o SCMP e a Bloomberg, um funcionário do governo indiano teria ditado que "preocupações de segurança com relação aos investimentos chineses na Índia foram sinalizadas durante as deliberações". Os dois países têm travado disputas militares na fronteira nos últimos anos e não vivem o melhor dos momentos em termos políticos.
Novos negócios
O crescimento do mercado tem o potencial de gerar oportunidades de negócios para o Brasil. A ideia por trás da aliança é aumentar a utilização de biocombustíveis em nível global, não apenas no setor automotivo, mas também em aeronaves e embarcações.
A Organização Internacional da Aviação Civil já estabeleceu metas ambiciosas de redução de emissões de carbono que entrarão em vigor a partir de 2027, enquanto o setor marítimo está finalizando o processo para adotar medidas semelhantes.
De acordo com a Agência Internacional de Energia, a produção global de biocombustíveis precisa triplicar até 2030 para que o mundo possa atingir emissões líquidas zero de carbono até 2050.
Oportunidade para o Sul Global
A tentativa de expandir o mercado mundial de etanol é uma agenda antiga do Brasil liderado pela Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar).
No seu segundo mandato presidencial, Lula chegou a assinar um acordo com o presidente americano George W. Bush em 2007, com o objetivo de promover os biocombustíveis no mundo, mas os avanços foram modestos.
Naquela época, Bush chegou a se referir a Lula como o "embaixador do etanol", devido à forte defesa do brasileiro em favor dessa opção energética.
Para o Brasil, a aliança estabelecida na Índia se alinha perfeitamente com os objetivos da política externa brasileira de promover o desenvolvimento do Sul Global.
Isso ocorre porque a adoção de biocombustíveis é vista como uma alternativa mais econômica de energia sustentável para o transporte do que, por exemplo, a eletrificação da frota.
Além disso, também gera mais empregos e renda, sendo mais intensiva em mão de obra.