CÚPULA AMAZÔNICA

Unidos por Nossas Florestas: países florestais cobram ajuda financeira de países ricos

Comunicado divulgado durante encontro em Belém destaca que países desenvolvidos ainda não cumpriram compromisso de financiamento de 100 bi de dólares por ano e de 200 bi por ano até 2030

Créditos: PR (Ricardo Stuckert) - Representantes dos países que participam da Cúpula da Amazônia, em Belém (PA)
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Na Cúpula da Amazônia, que está sendo realizada em Belém (PA), representantes de Bol??via, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Indonésia, Peru, República Democrática do Congo, República do Congo, São Vicente e Granadinas, Suriname e Venezuela, todos países com florestas tropicais, divulgaram nesta quarta-feira (9) um comunicado no qual cobram ajuda financeira dos países desenvolvidos para a preservação das florestas tropicais.

Intitulado "Unidos por Nossas Florestas" (leia a íntegra abaixo), o texto de dez pontos manifesta preocupação dos países em desenvolvimento com florestas tropicais com o não-cumprimento, por parte dos países desenvolvidos:

  • do compromisso de financiamento para o desenvolvimento equivalente a 0,7% do rendimento nacional bruto;
     
  • de financiamento climático de US$ 100 bilhões por ano em recursos novos e adicionais aos países em desenvolvimento, conclamamos os países desenvolvidos a cumprirem suas obrigações de financiamento climático
     
  • e a contribuir para a mobilização de US$ 200 bilhões por ano, até 2030, previstos pelo Marco Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal para a implementação dos planos de ação e estratégias nacionais de biodiversidade, por meio da provisão de recursos financeiros novos, adicionais, previsíveis e adequados.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião do encontro, em seu discurso destacou a falta de cumprimento do acordo pelos países ricos. Ele pontuou que os US$ 100 bilhões anuais prometidos pelos países ricos desde 2009 para o financiamento climático de nações em desenvolvimento já não são adequados. 

"Desde a COP 15, o compromisso dos países desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhões por ano em financiamento climático novo e adicional nunca foi cumprido. Esse montante já não atende às demandas atuais. A necessidade por mitigação, adaptação e reparação de danos só aumenta", afirmou o presidente.

Lula ressaltou que países com as maiores reservas florestais e biodiversidade merecem uma representação mais significativa no Fundo Global e considerou "inexplicável" que mecanismos de financiamento, como o Fundo Global para o Meio Ambiente, que surgiu no Banco Mundial, perpetuem a lógica excludente das instituições de Bretton Woods.

O presidente brasileiro criticou ainda a falta de representatividade de países como Brasil, Colômbia, Equador, Congo e Indonésia no fundo, e mencionou que a estrutura atual acaba favorecendo países desenvolvidos como Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália e Suécia, que possuem assentos individuais.

"Os serviços ambientais e ecossistêmicos que as florestas tropicais oferecem ao mundo devem ser remunerados de maneira justa e equitativa", acrescentou, ao defender uma forma de certificação para produtos produzidos de maneira sustentável nas grandes florestas tropicais.

Neocolonialismo verde

Lula classificou a adoção de medidas discriminatórias e barreiras comerciais, sob o pretexto de proteger o meio ambiente, como "neocolonialismo verde", que ignora marcos normativos e políticas domésticas dos países que possuem florestas em seus territórios.

"Quero convidar especialmente outros países com florestas tropicais a se unirem a esse esforço. A Declaração Conjunta que adotaremos hoje será o primeiro passo para uma posição comum já na COP28, este ano, com vistas à COP30. Junto com nossos parceiros da África e da Ásia, podemos aprofundar as trocas de experiências sobre a proteção das florestas e seu manejo sustentável", acrescentou Lula.

 Pelas redes sociais, Lula chamou a atenção para a importância da Cúpula Amazônica.

Desenvolvimento sustentável para Amazônia

Na terça-feira (8), primeiro dia da Cúpula da Amazônia, um outro documento, a Declaração de Belém, foi divulgado por Lula e lideranças dos oito países que compõem a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). O texto apresenta compromissos e prioridades para enfrentarem, em conjunto, o desafio da proteção integral da Amazônia, ao mesmo tempo em que atuam para combater a pobreza e as desigualdades e promover o desenvolvimento sustentável da região, de forma harmônica, integral e inclusiva.

Também na terça-feira, os representantes dos países amazônicos receberam as propostas de políticas públicas elaboradas por representantes de entidades, movimentos sociais, da academia, de centros de pesquisa e agências governamentais do Brasil e demais países amazônicos durante o Diálogos Amazônicos, evento prévio à Cúpula da Amazônia.

Unidos por Nossas Florestas: Comunicado Conjunto dos Países Florestais em Desenvolvimento em Belém

"Nós, os Presidentes e Chefes de Delegação de Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Indonésia, Peru, República Democrática do Congo, República do Congo, São Vicente e Granadinas, Suriname e Venezuela, reunidos em Belém do Pará, no dia 9 de agosto de 2023,

  1. Reconhecemos a inestimável contribuição dos povos indígenas e das comunidades locais, bem como das mulheres e dos jovens, para a conservação das florestas tropicais.

  2. Observamos que, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC AR6), "a mudança do clima já está impactando as florestas tropicais em todo o mundo, incluindo transformações na distribuição dos biomas florestais, alterações na composição de espécies, biomassa, pragas e doenças, e aumento da quantidade de incêndios florestais".
     
  3. Reiteramos nosso compromisso com a preservação das florestas, a redução das causas do desmatamento e da degradação florestal, a conservação e valoração da biodiversidade e a busca por uma transição ecológica justa, convencidos de que nossas florestas podem ser centros de desenvolvimento sustentável e produtoras de soluções para os desafios de sustentabilidade nacionais e globais, conciliando prosperidade econômica com proteção ambiental e bem-estar social, em especial para os povos indígenas e comunidades locais, inclusive por meio do desenvolvimento de mecanismos inovadores que reconheçam e promovam os funções/serviços ecossistêmicos e a conservação e uso sustentável da biodiversidade.
     
  4. Manifestamos nossa preocupação com o não-cumprimento, por parte dos países desenvolvidos, do compromisso de financiamento para o desenvolvimento equivalente a 0,7% do rendimento nacional bruto; de financiamento climático de US$ 100 bilhões por ano em recursos novos e adicionais aos países em desenvolvimento, conclamamos os países desenvolvidos a cumprirem suas obrigações de financiamento climático; e a contribuir para a mobilização de US$ 200 bilhões por ano, até 2030, previstos pelo Marco Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal para a implementação dos planos de ação e estratégias nacionais de biodiversidade, por meio da provisão de recursos financeiros novos, adicionais, previsíveis e adequados.
     
  5. Manifestamos também nossa preocupação com o não-cumprimento, por parte de alguns países desenvolvidos, de suas metas de mitigação e relembramos a necessidade dos países desenvolvidos de liderar e acelerar a descarbonização de suas economias, atingindo a neutralidade de emissões de gases de efeito estufa o mais rápido possível e preferencialmente antes de 2050.
     
  6. Observando que a cooperação internacional é a via mais eficaz para apoiar nosso compromisso soberano de redução das causas do desmatamento e da degradação florestal, condenamos a adoção de medidas para combater as mudanças climáticas e proteger o meio ambiente, incluindo as medidas unilaterais, que constituam um meio de discriminação arbitrária ou injustificável ou uma restrição disfarçada ao comércio internacional.
     
  7. Reforçamos nosso entendimento de que o acesso preferencial para produtos florestais nos mercados dos países desenvolvidos será importante alavanca para o desenvolvimento econômico dos países em desenvolvimento.
     
  8. Convidamos os demais países em desenvolvimento detentores de florestas tropicais ao diálogo, baseado na solidariedade e na cooperação, com vistas à COP-28 da UNFCCC e à COP-16 da CDB e demais conferências internacionais relevantes, a respeito dos temas constantes deste Comunicado.
     
  9.  Conclamamos também os demais países em desenvolvimento detentores de parcela significativa da biodiversidade global a lutar para que nossos países tenham maior influência sobre a gestão de recursos destinados à conservação e ao uso sustentável da biodiversidade.
     
  10. Tomamos nota de diferentes iniciativas conduzidas por países em desenvolvimento relevantes para a conservação e uso sustentável de ecossistemas florestais, como a Cooperação Trilateral sobre Florestas Tropicais e Ação Climática, promovida por Brasil, República Democrática do Congo e Indonésia, e a iniciativa da República do Congo de sediar uma Cúpula das Três Bacias dos Ecossistemas da Biodiversidade e Florestais Tropicais."