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Surgimento da próxima pandemia já pode ter local revelado; entenda

Cientistas montaram mapa global para localizar áreas propícias à origem de novos surtos patogênicos

Estudiosos levaram três meses para investigar os dados.Créditos: Anton Uniqueton/Pexels
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Identificar a tempo um patógeno que possa se multiplicar e causar outra pandemia, como a causada pelo coronavírus responsável pela doença COVID-19, é um dos maiores desafios enfrentados pelos cientistas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para a ameaça de surgimento de outra variante do coronavírus ou de um patógeno ainda mais mortal. "Quando a próxima pandemia chegar - e ela chegará - devemos estar prontos para responder de forma decisiva, coletiva e equitativa", disse o diretor-geral da agência de saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus. 

Com o apoio da NASA, uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos, Israel e Alemanha, incluindo o cientista argentino Sebastián Martinuzzi, criou o primeiro mapa-múndi das áreas onde convergem habitações humanas e florestais. Nessas áreas, tecnicamente chamadas de interface urbano-rural, floresta ou selvagem, os assentamentos humanos e a natureza se juntam. 

Havendo a possibilidade de ocorrer fugas de patógenos de outras espécies para os seres humanos, dando origem a surtos de doenças intituladas como ‘zoonoses’. O estudo foi publicado na revista Nature em julho (19)

Por que essas áreas?

É fundamental prestar atenção nessas áreas, pois há riscos de perda de biodiversidade nos ecossistemas e incêndios na vegetação. A definição de cada ‘interface urbano-rural ou florestal’ foi dada pelo grupo de pesquisa como qualquer local onde esteja pelo menos uma casa para cada 16 hectares e que também seja coberto por 50% de vegetação silvestre, tais como manguezais, musgos, liquens, árvores, matagais, pastagens e zonas úmidas herbáceas.

Franz Schug, pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Floresta e Ecologia da Vida Selvagem da Universidade de Wisconsin-Madison, e primeiro autor da pesquisa, esclareceu que as zonas de interface eram utilizadas pelo Serviço Florestal a fim de ajudar no manejo de incêndios em vegetação no oeste dos EUA.

As áreas de interface foram detalhadas apenas nos Estados Unidos e em alguns outros países desenvolvidos nos últimos anos. Então, eles usaram cartografia de alta resolução e mapearam as áreas de interface urbano-rural/floresta do globo, já que havia uma lacuna de conhecimento em relação ao restante do mundo.

As áreas cobrem apenas 4,7% do território da Terra, mas são o lar de cerca de metade da população humana, onde os edifícios são construídos em ou próximo da vegetação selvagem.

Segundo o professor de ecologia florestal e co-autor, Volker Radeloff, a mudança climática pode aumentar o potencial de estresse ambiental em áreas de interface urbano-rural. O aumento da frequência com que humanos e animais selvagens entram em contato em muitos lugares está se dando através do crescimento populacional.

Como foi o estudo

Os estudiosos montaram um programa de computador e levaram três meses para investigar todos os dados e delimitar as regiões que poderiam ser consideradas "interface", para montar o mapa. Os dados de ocupação do solo e edificações que entravam no computador vinham de bancos de dados públicos e eram armazenados em grandes servidores.

Assim, eles descobriram que nem todas as zonas de interface urbana/rural ou florestal ao redor do mundo têm a mesma aparência ou têm os mesmos tipos de ecossistemas.

Créditos: Universidad de Wisconsin-Madison, Laboratorio SILVIS

Na Polônia, Argentina e Portugal já haviam sido fitos estudos locais sobre as áreas de interface consideradas para compor o mapa global. Conforme os Drs. Radeloff e Schug, o novo mapa será "uma ferramenta que pode ajudar os administradores de terras em todo o mundo a saber onde precisam ficar atentos no futuro".

Em diálogo com o portal Infobae, Ricardo Rodríguez, diretor do diploma de engenharia de alimentos da Universidade Nacional de San Martín (UNSAM) e professor do mestrado em Prevenção e Controle de Zoonoses da Universidade Nacional do Noroeste da província de Buenos Aires (UNNOBA), diz que “o estudo publicado na Nature é relevante e aborda um tema de grande atualidade no âmbito da interface humano-animal-ambiente, que é a pedra angular do conceito, foco e abordagem de “One Health”.

Para reduzir o risco de futuras pandemias, o diretor destacou que é necessário delimitar “estratégias de vigilância e resposta, e fortalecer e melhorar o uso das tecnologias de informação”. As redes de laboratórios para atividades de vigilância, apoio e resposta devem, do mesmo modo, ser consolidadas e a situação dos recursos humanos, aprimorada.

*Com informações de Infobae