CÚPULA DE PARIS

VÍDEO: Lula faz discurso histórico contra desigualdade e mira sistema financeiro

Falando de improviso para cerca de cem chefes de Estado, Lula atacou o Banco Mundial e o FMI, falou da questão palestina, do acordo do Mercosul com a União Europeia e cobrou uma "governança global"

Lula em discurso a líderes mundiais na cúpula de Paris para um novo Pacto Financeiro Global.Créditos: Ricardo Stuckert/PR
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Falando de improviso, como nos velhos tempos do sindicalismo, Lula fez um discurso histórico contra a desigualdade social na manhã desta sexta-feira (23) na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, em Paris. O encontro, organizado pelo presidente francês Emmanuel Macron, reúne cerca de cem chefes de Estado para debater mudanças na estrutura financeira e a luta contra a pobreza no mundo.

"Não é possível que, numa reunião com tantos países, a palavra desigualdade não apareça. Nós estamos num mundo cada vez mais desigual a riqueza concentrada nas mãos de menos gente. Se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo continuar morrendo de fome em vários países do mundo”, disparou Lula logo no início de seu discurso, de mais de 20 minutos.

Em seguida, Lula criticou a atuação de organismos multilaterais, principalmente aqueles ligados ao sistema financeiro, que foram cunhados após a Segunda Guerra Mundial.

"Nós, aqui, precisamos ter claro o seguinte: aquilo que foi criado depois da Segunda Guerra Mundial, as instituições de Bretton Woods (acordo feito em 1944 que definiu os participantes da Conferência Monetária e Financeira Internacional das Nações Unidas) não funcionam mais e não atendem mais às aspirações e interesses da sociedade. Vamos ter claro que o Banco Mundial deixa muito a desejar naquilo que o mundo aspira dele; vamos deixar claro que o FMI deixa muito a desejar naquilo que as pessoas esperam do FMI", afirmou.

Lula usou o exemplo da Argentina, que contratou um empréstimo de cerca de 44 bilhões de dólares junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no gover ultradireitista de Mauricio Macri, que fez explodir a economia no governo atual, de Alberto Fernández.

"Muitas vezes os bancos emprestam dinheiro e esse dinheiro emprestado é o resultado da falência do Estado. É o que estamos vendo na Argentina hoje. A Argentina, da forma mais irresponsável do mundo, o FMI emprestou 44 bilhões de dólares para um senhor que era presidente, não se sabe o que ele fez com o dinheiro, e a Argentina está passando por uma situação econômica muito difícil, porque não tem dólar nem para pagar o FMI", disse Lula, que também mirou o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

"Mesmo o Conselho de Segurança da ONU, os membros permanentes não representam mais a realidade política de 2023. Se representava em 1945, em 2023 precisa mudar. A ONU precisa voltar a ter relevância política", afirmou.

Lula ainda tocou em outra ferida de décadas da ONU: a questão palestina.

"A ONU foi capaz de criar o Estado de Israel em 1948, e não é capaz de resolver o problema da ocupação do Estado Palestino", disse Lula.

"Se nós não mudarmos essas instituições, a questão climática vira uma brincadeira. E por que vira uma brincadeira? Quem é é que vai cumprir as decisões emanadas dos fóruns que nós fazemos?”, indagou.

"Não se cumpre porque não se tem uma governança mundial com força para fazer a gente cumprir. É preciso ter clareza que, se a gente não mudar as instituições, quem é rico vai continuar rico e quem é pobre vai continuar pobre", disparou Lula, após listar uma séria de acordos que não foram cumpridos.

Cobrança à União Europeia

Lula ainda criticou as exigências feitas pela União Europeia para fechar o acordo comercial com o Mercosul, que foi festejado durante o governo Jair Bolsonaro.

“Os acordos comerciais tem que ser mais justos. Eu estou doido para fazer um acordo com a União Europeia, mas não é possível. A carta adicional [com novas condições, em especial ambientais] feita pela União Europeia não permite fazer um acordo. Não é possível que a gente tenha uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo ameaças a um parceiro estratégico”, disparou Lula, enquanto olhava para o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o presidente francês, Emmanuel Macron. 

Lula ainda se referiu ao antecessor, Jair Bolsonaro (PL), como um fascista e lamentou voltar ao governo com uma parcela da população passando fome após zerar a miséria em seus governos anteriores.

Assista ao discurso histórico de Lula.