K-pop, b-pop, Bollywood, dorama, anime, pad thai, futebol, Cristo Redentor e baguette: tudo isso é soft power. Nas relações internacionais, esse tema tem se tornado cada vez mais interessante para os países e para os pesquisadores de todo o planeta.
Neste artigo, vamos definir o que é soft power, quais são os principais exemplos da estratégia e o que é o soft power brasileiro. Além disso, vamos comparar o soft power com o hard power, considerado o principal e tradicional instrumento das relações internacionais atualmente.
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Para isso, é importante entender a origem da definição de soft power, além de entender quem são os teóricos que utilizam esse termo e como, de fato, os estados nacionais o utilizam.
O que é soft power? - definição
Soft power (ou poder suave) é a influência cultural que um Estado exerce sobre a comunidade internacional. Usualmente, o soft power é utilizado através de peças culturais bem-sucedidas no exterior, seja no cinema, na música, na dança ou mesmo na culinária.
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O conceito de soft power foi desenvolvido pelo pesquisador Joseph Nye, professor da Universidade de Harvard. Sua popularização veio no livro de 2004, ‘Soft Power: The Means to success in world politics, ou, em tradução livre, ‘Poder Suave: Os meios para o sucesso na política mundial'.
A ideia é que países invistam em produtos culturais com o enfoque em sua exportação para atração de turismo, dominação cultural ou mesmo estreitamento de laços, sem a necessidade de estabelecer alianças com fins puramente econômicos e militares.
O hard power é a estratégia mais comum nas relações internacionais. De modo coloquial, podemos afirmar que o hard power é a dinâmica do porrete, que força países a conquistarem seus interesses a partir de ameaças militares e sanções econômicas.
As duas estratégias são combinadas: nenhum país irá depender apenas de suas produções culturais para conseguir seus objetivos estratégicos no âmbito internacional.
Exemplos de soft power
Os principais países do planeta combinam estratégias de soft e hard power em sua política externa para seus objetivos.
Soft power dos EUA
Durante anos e anos, nós assistimos filmes estadunidenses e incorporamos o modo de pensar americano em nossa cultura. Fomos influenciados politicamente por filmes que apoiaram os EUA em empreitadas como a Guerra do Vietnã e a Guerra Fria. O investimento pesado de Washington não foi à toa: conseguiu transformar a visão de milhares de pessoas sobre suas ações e sobre os outros países do mundo com a “bala mágica” do cinema.
O fortalecimento de um ideário cinemático de oposição entre os heróis estadunidenses contra os vilões russos (Rocky Balboa III), afegãos (Rambo e Guerra ao Terror) e árabes (como O Ditador e Zohan) se aliam com o interesse político dos EUA em conflitos com esses países.
Softpower da Tailândia - diplomacia do pad thai
Mas, nos últimos anos, temos visto este tipo de domínio de soft power ser utilizado por outros países. A Tailândia, por exemplo, financia e incentiva que seus imigrantes abram restaurantes em outros países, fornecendo receitas e equipamentos para que se fortaleça a diplomacia do pad thai.
A iguaria, que foi criada pelo estado tailandês nos anos 1930 para ser o ‘prato nacional’, se tornou símbolo da diplomacia thai nos últimos anos e garante que o nome do país seja cada vez mais influente, em especial, no ocidente.
Soft power da Coreia do Sul - a k-wave
Do mesmo modo, a Coreia do Sul tem galvanizado sua presença no imaginário mundial através de três frentes: o k-pop, extremamente popular entre adolescentes ocidentais, em especial através de grupos como BTS, Exxo e Blackpink, os doramas, que dominam as televisões das noveleiras globais, e os filmes de alto padrão, como Parasita e Train to Busan.
Estudos mostram que a Coreia do Sul conseguiu expandir sua marca ao redor do mundo através dessas obras, além de trazer receitas para o país. Segundo dados da Korea Creative Content Agency, os produtos da indústria cultural coreana renderam US$ 13 bilhões.
Exemplos de soft power em Índia, Egito e China
Bollywood é a principal arma da Índia para garantir seu poder e filmes de propaganda nacionalista indiana, como RRR, Baahubali e KGF tem se tornado cada vez mais fortes fora do país.
O Egito utiliza e investe pesado em arqueologia para reforçar seu poder dentro do mundo árabe e do resto do planeta como um lugar único e de herança milenar em sua identidade.
A China, por exemplo, investe fortemente em apoio humanitário e acadêmico para diversos países do terceiro mundo, consolidando sua imagem como parceira dos povos, em como de suas heranças milenares, como o Egito. Muitos desses esforços podem ser vistos através da coluna China em Foco da jornalista Iara Vidal, aqui na Fórum.
Soft power brasileiro - o que é?
O soft power brasileiro tem sido entendido de diversas maneiras ao redor dos anos. As novelas brasileiras, consideradas um sucesso em diversos países ao redor do mundo, como Cuba e Portugal, são um bom exemplo da influência de soft power.
Além disso, a bossa nova foi um importante ponto de propulsão para o Brasil no exterior, sendo considerada o grande ‘pé na porta’ da música brasileira no âmbito internacional durante os anos 1950, 1960 e 1970, em especial na Europa e nos EUA.
Eventos como o Carnaval também são entendidos como uma forma de desenvolvimento do soft power para o Brasil, haja visto seu potencial de atração de turistas e o encantamento que isso gera ao redor de todo o planeta.
Futebol como soft power
O principal elemento do soft power brasileiro, contudo, sempre foi o futebol. A seleção brasileira já foi utilizada em diversos momentos como máquina de propaganda, por exemplo, durante a ditadura militar, mas, nos últimos anos, cumpre um papel internacional.
Índia, Palestina, Marrocos, Egito, Jordânia, Bangladesh, Haiti, Paquistã e outros diversos países no mundo tem uma grande quantidade de fãs do Brasil por conta do futebol. Figuras como Pelé, Ronaldinho, Neymar e Ronaldo são utilizadas para a promoção de eventos pela FIFA em diversos cantos do mundo.
O Brasil pode não se utilizar diretamente do futebol para conquistar objetivos internacionais, mas garante presença internacional ao redor do planeta e tem seu nome sempre lembrado por conta do esporte.
Língua portuguesa
Além disso, o Brasil expande seu poder em países lusófonos, através de fluxos migratórios e utiliza, por exemplo, de um elemento do soft power - a língua portuguesa - para realizar investimentos em países africanos de língua portuguesa (PALOP), como Cabo Verde, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Soft power brasileiro - conclusão
Atualmente, o Brasil é considerado o 31º país no ranking de Global Soft Power Index, que mensura qual é o posicionamento e reconhecimento do país no mundo e sua importância no cenário global.
O soft power hoje é um conceito amplamente utilizado por pesquisadores e por estrategistas internacionais, sendo considerado parte fundamental da estratégia de desenvolvimento internacional de qualquer país ao redor do planeta.