Com uma de suas bravatas de campanha o novo presidente argentino, Javier Milei, se meteu numa enrascada sozinho e gerou o primeiro escândalo de mentiras em apenas três semanas na cadeira. Sempre com um discurso austero e demagógico, ele passou anos dizendo que não usaria de dinheiro do Estado se chegasse à presidência, e foi o que alegou, sem ninguém perguntar nada, quando viajou para Mar del Plata, na sexta-feira (29), para assistir à estreia de um espetáculo de sua namorada, a humorista Fátima Florez.
Milei chegou acompanhado de mais de 100 guarda-costas, com veículos blindados, e se hospedou num hotel de luxo da cidade litorânea, mas fez questão de propagar a história que ele e sua irmã, Karina Milei, que é secretária-geral da Presidência, voaram para lá pagando as passagens aéreas do próprio bolso. Inclusive, na noite de ontem (30), seu porta-voz divulgou os prints com a tal compra. Só que a mentira tem perna curta.
Nas imagens disponibilizadas pelo “vocero”, como é chamado o cargo de porta-voz em língua espanhola, a agência em que os bilhetes foram comprados é a ‘Optar’, uma empresa estatal que não vende passagens a pessoas físicas nem jurídicas de nenhum tipo. Ela tem como cliente exclusivo o governo argentino, que é o único no sistema que pode efetuar a compra, faturação e emissão de passagens.
Não há nenhum problema em Milei realizar uma agenda privada sendo presidente da nação e ter os custos bancados pelo Estado. É absolutamente legal e normal, mas sua sanha de usar um verniz moralista pode custar caro à sua imagem. Desde que a história de “arcar com os custos” da ida a Mar del Plata começou, peronistas, jornalistas e outros analistas políticos já estavam achando tudo muito estranho, uma vez que fontes internadas do governo, sob anonimato, já tinham dito que a compra tinha sido realizada da forma habitual, com o valor sendo pago pelos cofres públicos. “Foi um exagero desnecessário”, disse uma fonte peronista à imprensa argentina.
Funcionários que já trabalharam com o sistema de emissão de passagens compradas pela estatal ‘Optar’ também confirmaram, sem se identificarem, que é impossível efetuar uma compra no sistema da empresa pagando com recursos de uma pessoa física, o que endossa que os prints divulgados são uma fraude.