O editor da revista Jacobin Brasil e da livraria Autonomia Literária, Hugo Albuquerque, acredita o Brasil deve fechar as fronteiras comerciais com a Argentina se o governo de Javier Milei sabotar o Mercosul.
Ele expressou esta opinião em entrevista ao programa Fórum Global desta sexta-feira, 15.
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A posse de Milei na Argentina, que contou com a presença dos presidentes do Uruguai e do Paraguai -- mas não do presidente Lula -- foi antecedida por críticas do dirigente uruguaio Lacalle Pou ao bloco comercial.
O Uruguai quer acelerar as negociações para um acordo com a União Europeia, mas o presidente Lula tem dito que o Brasil não abrirá mão das compras governamentais, como querem os europeus.
As compras do governo brasileiro podem ser importante peça de fomento à indústria local.
Javier Milei, por sua vez, decidiu acelerar as importações da Argentina a partir de janeiro, com o suposto objetivo de controlar a inflação.
O pacote econômico do presidente vai aumentar tarifas e derrubar salários.
Para Hugo Albuquerque, uma das consequências será o empobrecimento da classe média argentina, que costumava viajar para o Brasil e consumir produtos brasileiros.
BRASIL: 72% DO PIB
O Brasil representa 72% do PIB do Mercosul. Tem o maior mercado consumidor do bloco.
Criado em março de 1991 em Assunção, no Paraguai, o Mercosul é um dos pilares da política externa brasileira.
Nos dois primeiros mandatos do presidente Lula, sob o chanceler Celso Amorim, o Brasil sempre considerou as assimetrias com seus vizinhos para manter o bloco coeso.
Ou seja, cedeu mais que cobrou.
Para Hugo Albuquerque, Javier Milei chegou ao poder associado a interesses internacionais que buscam solapar a posição brasileira no continente.
Desde que assumiu, depois de dizer que cortaria relações comerciais com a China e o Brasil, Milei já voltou atrás quanto a Beijing.
Enviou uma carta a Xi Jinping e pediu ao dirigente chinês que mantenha um empréstimo equivalente a cerca de U$ 5 bilhões que havia sido negociado com seu antecessor, Alberto Fernández.
Milei manteve no cargo o embaixador em Brasília que havia sido indicado pelo governo anterior.
É pouco provável que a Argentina crie embaraços graves ao Mercosul, uma vez que 15% das exportações do país são destinadas ao Brasil.
Em segundo lugar vem a China, com 9%.
Porém, os contatos diretos do governo Milei com o presidente Lula permanecem congelados.
Buenos Aires mantém a posição de não se juntar aos BRICs, adesão patrocinada pelo Brasil.
Milei deu recepção de chefe de Estado a Jair Bolsonaro em Buenos Aires.
A capital pode ocupar o lugar de Miami como um dos centros da oposição internacional ao governo Lula.
Para Hugo Albuquerque, se porventura a Argentina tomar medidas para solapar o bloco comercial o governo Lula deveria assumir posição menos passiva, no extremo fechando seu mercado ao vizinho.
A conjuntura comercial no planeta está em rápida transformação.
Não se trata apenas da ascensão da China, mas de outros países da Ásia como o Vietnã e a Malásia.
Na América do Sul, as grandes descobertas de petróleo na faixa de mar que vai da costa brasileira à Guiana indicam a possibilidade de um novo pré-sal, que fortalece o Norte e o Nordeste brasileiros e suas relações com paises limítrofes, o Caribe, o México, os Estados Unidos e a União Europeia.
Ou seja, assim como o eixo comercial do mundo se move em direção à Ásia, na América do Sul a longo prazo ele se desloca do Sul/Sudeste brasileiro para o Norte/Nordeste, deixando a Argentina em segundo plano.
Veja a entrevista de Hugo Albuquerque -- e saiba mais sobre o pacotaço de repressão de Javier Milei -- no programa Fórum Global desta sexta-feira: