O presidente Lula assumiu de vez papel central nas conversações de paz entre Venezuela e a Guiana para resolver a histórica disputa por Essequibo.
Depois do primeiro encontro entre os presidentes da Guiana e Venezuela, hoje, em Argyle, nas ilhas caribenhas de São Vicente e Grenadinas, Nicolas Maduro e Irfaan Ali concordaram em resolver a disputa pacificamente.
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O próximo encontro entre os dois será no Brasil, dentro de três meses.
O assessor especial do presidente Lula, ex-chanceler Celso Amorim, estava presente ao encontro.
De acordo com o comunicado final, em caso de violação dos termos do acordo, com algum movimento que represente ameaça de guerra, serão informados prioritariamente o presidente Lula, a Comunidade do Caribe (CARICOM) e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).
SEM AÇÃO MILITAR
O ponto alto do comunicado é que os dois presidentes se comprometeram a não adotar ações que impliquem em possível confronto militar.
Os líderes concordaram em discordar: a Guiana continua sustentando que o imbroglio territorial deve ser decidido na Corte Internacional de Justiça, em Haia, do que a Venezuela discorda.
Para Caracas, vale a Carta de Genebra de 1966, segundo a qual os dois lados negociariam diretamente e fechariam um acordo mutuamente aceitável.
No comunicado final, os presidentes agradeceram a Lula e ao ex-chanceler Celso Amorim pela mediação.
A Guiana, ex-colônia britânica, nunca perdeu uma disputa mediada por terceiros em sua História. Ganhou uma com seu vizinho Suriname, para a definição do mar territorial e da zona de interesse econômico de ambos.
Os dois paises ainda não resolveram outra disputa, no chamado Triângulo do Rio Novo, onde Guiana e Suriname fazem fronteira com o Brasil.
O Brasil perdeu uma disputa para a Guiana que foi mediada pelo rei da Itália, a chamada Questão do Pirara. A decisão deu a maior parte do território para a então colônia, além de dar acesso aos britânicos à bacia amazônica, retirando do Brasil acesso à bacia do rio Essequibo, que desagua no oceano Atlântico.
Hoje não são britânicos os que tem maiores interesses econômicos na Guiana, mas petrolíferas internacionais como a Exxon, a Hess e a chinesa CNOOC.
Estados Unidos e China são os maiores consumidores mundiais de petróleo e atuam juntos para manter estáveis a produção e o preço internacionais.
DUBAI DO CARIBE
A produção de petróleo num bloco específico da costa da Guiana, o de Straebok, explodiu desde 2015, com reservas estimadas em 8 bilhões de barris. Os primeiros poços foram perfurados nas proximidades de Georgetown, a capital, mas a Guiana passou a dar novas concessões na costa de Essequibo.
A Venezuela sustenta que isso viola o direito internacional, uma vez que é território em disputa.
No dia 3 de dezembro, mais de 95% dos venezuelanos votaram em um plebiscito e concordaram com as propostas do governo de tornar Essequibo oficialmente uma província da Venezuela.
Nicolas Maduro também autorizou estatais venezuelanas a traçar planos para explorar o território. O plebiscito também concedeu cidadania venezuelana aos moradores de Essequibo, cerca de 120 mil.
Embora a mídia comercial tenha acusado Maduro de pretensões territoriais, esta é uma disputa histórica que antecede em muito a chegada de Hugo Chávez ao poder.
A líder da oposição a Maduro, Maria Corina Machado, que deve disputar com ele as próximas eleições presidenciais, foi às redes sociais dizer que, apesar de condenar o plebiscito de 3 de dezembro como jogada eleitoral, seu grupo apoia 100% a pretensão da Venezuela de incorporar Essequibo.
O tema foi tratado em detalhes no programa Fórum Global, da TV Fórum, nesta quinta-feira: