INSEGURANÇA ALIMENTAR

Mais de 43 milhões de pessoas passam fome na América Latina, aponta FAO

Órgão também alerta para aumento de casos de obesidade infantil; Região tem a alimentação saudável mais cara do mundo

Fome na América Latina.Créditos: Foto: Divulgação/Ministério do Desenvolvimento Social
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Cerca de 43,2 milhões de pessoas passam fome na América Latina e no Caribe devido às mudanças climáticas e à desigualdade que afetam as regiões. Isso é o que aponta o novo relatório Panorama Regional da Segurança Alimentar e Nutrição 2023, divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO, na sigla em inglês), nesta quinta-feira (9). 

Essa realidade também foi intensificada pela pandemia de Covid-19 em 2020. Segundo o relatório, o atual número apresentou uma queda de 0,5 pontos percentuais, mas ainda está 0,9 pontos acima dos registos de 2019, antes da crise sanitária

“Os números da fome na nossa região continuam preocupantes. Vemos como nos distanciamos cada vez mais do cumprimento da agenda 2030 e ainda não conseguimos melhorar os números anteriores à crise desencadeada pela pandemia de COVID-19”, alerta Mario Lubetkin, vice-diretor e Representante Regional da FAO para a América Latina e o Caribe, que também afirma que a região enfrenta desafios persistentes como a desigualdade, a pobreza e as mudanças climáticas, que reverteram o progresso na luta contra a fome em pelo menos 13 anos. “Este cenário nos obriga a trabalhar juntos e a agir o mais rápido possível”.

Lola Castro, Diretora Regional do Programa Mundial de Alimentos (WFP), diz que é necessário manter as pessoas no centro de ações contra a insegurança alimentar e a má nutrição, principalmente no atual contexto de emergência climática. Ela garante que, com apoio dos governos regionais, a organização está promovendo "ações que protejam as pessoas mais vulneráveis e transformem os sistemas alimentares, para que sejam mais resilientes, além de acompanhar os esforços através de políticas públicas holísticas para promover alimentações saudáveis e acessíveis”.

Os dados também apontam que as desigualdades regionais têm um impacto significativo na segurança alimentar das pessoas mais vulneráveis. O relatório mostra que a fome atinge mais mulheres que homens numa diferença de 9,1 pontos percentuais, sendo a América Latina e o Caribe as regiões com a maior disparidade do mundo. Moradores de áreas rurais também sentem o impacto mais intensamente.

“Em 2022, a insegurança alimentar moderada ou grave nas zonas rurais era 8,3 pontos percentuais superior à das zonas urbanas. Mais uma vez, são as populações rurais que ficam para trás e por isso devemos priorizá-las em nossos programas e políticas públicas”, assegurou Rossana Polastri, Diretora Regional do Fundo Internacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA) para a América Latina e o Caribe.

Má alimentação e obesidade 

A América Latina e o Caribe também apresentam aumento de casos de sobrepeso infantil em meninos e meninas até 5 anos, e obesidade em adultos, que ultrapassam a média mundial em ambos os casos.

Entre 2020 e 2022, a prevalência de sobrepeso em crianças aumentou de 8,3% para 8,6%, com um aumento maior na América do Sul. Já em 2022, as taxas eram de 9,7% na América do Sul, 6,7% na América Central e 6,6% no Caribe.

“O sobrepeso e a obesidade são um desafio crescente, responsáveis por aproximadamente 2,8 milhões de mortes por doenças não transmissíveis em 2021 nas Américas", expõe o Dr. Jarbas Barbosa, Diretor da OPAS. “Nos últimos 50 anos, as taxas de sobrepeso e obesidade triplicaram, afetando 62,5% da população da região”, acrescentou, considerando “preocupante” a prevalência regional de sobrepeso em meninos, meninas e adolescentes que se situa em 33,6%, superior à média mundial. “É urgente avançar na transformação dos sistemas alimentares para garantir uma alimentação saudável para todos."

Uma questão que pode surgir é a relação entre a fome e a obesidade. A explicação está na baixa oferta de alimentos saudáveis e o alto custo que eles apresentam. Segundo o relatório, a América Latina e o Caribe têm o custo mais alto de uma alimentação saudável do mundo. Diante disso, a população mais pobre acaba consumindo alimentos ricos em gorduras e açúcares simples, sódio, contaminados com agrotóxicos, e com outros aditivos alimentares.

O atraso no crescimento infantil também é outra consequências da má nutrição que atinge as crianças. Ao todo, são 11,5% desse público atingido. Desde 2000, houve uma redução significativa de casos. Entre 2000 e 2012, a prevalência diminuiu cerca de 5 pontos percentuais, enquanto entre 2012 e 2022 a redução foi de apenas 1,2 pontos percentuais.

O Panorama Regional da Segurança Alimentar e Nutrição 2023 é uma publicação conjunta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), do Programa Mundial de Alimentos (WFP) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).