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Quem é o Olavo de Carvalho de Israel e o que ele pregava

Racismo e limpeza étnica

Ídolo.Guardadas as devidas proporções, Kahane está para Netanyahu como Ustra para Jair BolsonaroCréditos: Reprodução de vídeo
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Houve um dia em que as ideias do rabino Meir David HaKohen Kahane foram consideradas extremas.

Nascido Martin David Kahane no bairro do Brooklyn, em Nova York, filho de pais religiosos, Kahane desde cedo pregou violência em defesa dos que definia como inimigos do povo judaico.

Líder ortodoxo, foi Kahane quem popularizou a frase "Never Again", nunca mais, que os diplomatas de Israel recentemente adotaram em broches que colocaram na lapela de seus paletós.

De acordo com o embaixador de Israel às Nações Unidas, Gilad Erdan, os broches serão usados até que o Conselho de Segurança reconheça o Hamas como grupo terrorista.

Erdan tem a ambição de substituir Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro de Israel e está de olho no voto dos ortodoxos.

Hoje, a coalizão que mantém Netanyahu no poder tem 64 votos no Knesset, sendo 32 de partidos religiosos de extrema-direita.

O rabino Kahane também cunhou a frase "para cada judeu, uma calibre 22", que até hoje inspira boa parte dos 700 mil colonos instalados ilegalmente na Cisjordânia ocupada.

Ele foi um dos fundadores da JDF, a Jewish Defense League, uma organização dedicada a denunciar antissemitismo nos Estados Unidos.

TERRORISTA

Kahane foi condenado várias vezes, inclusive em Israel, por planejar ações terroristas contra a extinta União Soviética, o Iraque e civis palestinos.

Nos anos 1970 do século passado, mudou-se para Israel. Então, era visto como um extremista radical.

Em 1984, seu partido Kach obteve 25.907 votos e ele conseguiu uma vaga no Parlamento.

Defendeu a transferência dos árabes para fora do território de Israel e a proibição de casamentos entre judeus e não judeus.

Kahane antevia uma Grande Israel, que iria do Mediterrâneo até a margem esquerda do rio Eufrates, no Iraque.

Assassinado por um egípcio em um hotel de Nova York, em 1990, o rabino deixou como herança o "kahanismo", uma ideologia supremacista baseada nos vários livros que escreveu.

Seguidores de Kahane exercem ainda hoje grande influência na política dos Estados Unidos, especialmente em Nova York.

No Brooklyn, o rabino inaugurou a ideia do voto em bloco dos ortodoxos, que frutificou para os partidos religiosos em Israel.

Em novembro de 2022, depois dos resultados eleitorais em Israel que levaram Benjamin Netanyahu de volta ao poder, o diário Haaretz registrou:

O Sionismo Religioso, a lista do Knesset que distorceu o projeto sionista e o transformou de lar nacional do povo judeu em um projeto de supremacia judaica conservadora, de direita, racista e religiosa, no espírito do professor e rabino de Ben Gvir, Meir Kahane, é agora a terceira maior força política em Israel.

Ben Gvir é o ministro da Segurança Nacional de Israel que ficou de fora do gabinete de guerra de Benjamin Netanyahu, mas é ele próprio colono na Cisjordânia e está distribuindo 10 mil rifles de assalto a outros colonos.

No mesmo editorial, de 2022 o diário Haaretz reportou:

Este é o dia que o Senhor nos fez regozijar e nos alegrar Nele, tuitou o presidente do partido do Sionismo Religioso, Bezalel Smotrich. Hoje, o sionismo religioso faz História com a maior conquista para um partido religioso nacional desde o estabelecimento do Estado 

Smotrich, que foi indicado ministro das Finanças por Netanyahu, causou grande controvérsia ao fazer um discurso em Paris no qual negou a existência dos palestinos e se apresentou num pódium que continha o mapa da Grande Israel com todo o território da Jordânia e parte da Síria.

O mapa de Israel, segundo Smotrich: Jordânia some e parte da Síria é incorporada à Grande Israel. Reprodução

Recentemente, Smotrich propôs criar áreas de segurança "estéreis" separando os assentamentos ilegais de Israel na Cisjordânia da população árabe.

Os palestinos seriam impedidos de acessar estas áreas, inclusive para a colheita de azeitona.

O cultivo e manejo das oliveiras é uma atividade ligada umbilicalmente à presença dos palestinos em Gaza e na Cisjordânia.

As ideias de Kahane, antes consideradas exóticas como as de Olavo de Carvalho, se tornaram correntes em Israel.

É por isso que as promessas dos Estados Unidos, de promover a solução de dois estados depois de eventual vitória militar de Israel contra o Hamas, não são levadas a sério.