Se as oliveiras conhecessem as mãos que as plantaram, o seu azeite se transformaria em lágrimas.
Mahmoud Darwish, poeta e escritor palestino
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Recentemente, depois que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou um corte completo nas relações econômicas com Gaza, milhares de trabalhadores palestinos ficaram detidos na Cisjordânia, até serem deportados de volta para seu território de origem.
Israel gerencia de maneira científica o movimento de pessoas em Gaza e na Cisjordânia, através de mais de 300 barreiras policiais, reconhecimento facial, emissão de documentos de trânsito e autorização para trabalho.
É como se fosse um Big Brother, cujo principal objetivo é explorar mão-de-obra barata dissociada de autonomia política.
A União Europeia joga um papel central na manutenção da Autoridade Palestina, ao financiar mais de 50 mil funcionários públicos leais a Mahmoud Abbas, parte dos quais foi treinada para colaborar com as forças de ocupação.
Nenhuma atividade agrícola é mais importante para os palestinos que a colheita de azeitonas, que começou em outubro.
As oliveiras sobrevivem, apesar do terreno seco e dos ventos da Palestina.
SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA
As árvores, que podem viver 4 mil anos, se tornaram um símbolo de resistência.
São a principal fonte de renda de mais de 80 mil famílias.
Nas regiões mais remotas, as oliveiras e os rebanhos sob cuidado de palestinos representam o principal obstáculo ao avanço da colonização de Israel.
O principal destino das azeitonas é a produção de azeite, mas elas também são usadas no consumo de mesa e na produção de sabão.
Os palestinos exportam azeitonas para a Europa e os Estados Unidos.
Porém, especialmente na Cisjordânia, são acossados por colonos israelenses que avançam sobre suas terras.
Em um artigo na revista Ecologist, Cesar Chelala escreveu:
Nos últimos 40 anos, mais de um milhão de oliveiras e centenas de milhares de azeitonas foram destruídas em terras palestinas. As Forças de Defesa de Israel [IDF] foram acusadas de arrancar oliveiras para facilitar a construção de assentamentos, expandir estradas e construir infraestrutura. O desenraizamento de oliveiras centenárias causou enormes perdas aos agricultores e às suas famílias. Ao mesmo tempo, as restrições às colheitas se deram através de toques de recolher, bloqueios no trânsito de agricultores e ataques de colonos.
Este ano, a colheita em Gaza, que se concentra na região de Khan Yunis, se tornou praticamente impossível com o contínuo bombardeio de Israel.
Na Cisjordânia ocupada, a maior ameaça vem dos colonos israelenses, que estimulados pelo governo de Benjamin Netanyahu já promoviam violência contra agricultores palestinos mesmo antes do ataque de 7 de outubro do Hamas.
Conforme descreveram as repórteres Linah Alsaafin and Ruwaida Amer, da rede árabe Jazeera:
Na Cisjordânia ocupada, foram documentados ataques de colonos israelenses a palestinos. Roubaram azeitonas e atearam fogo nos pomares. Bilal Saleh, um olivicultor palestino, foi morto a tiros por um colono em outubro, enquanto fazia a colheita perto de Nablus. Na Faixa de Gaza, os desafios vem dos militares de Israel, que ou atacam e bombardeiam terras agrícolas em tempos de guerra ou as pulverizam com pesticidas, matando colheitas e tornando o solo impróprio para a agricultura
Para os palestinos, a colheita da azeitona é uma espécie de festival em família, com refeições sob as oliveiras celebrando a conexão com a terra ancestral.
Derrubar oliveiras ou impedir a colheita, além de um desafio à sobrevivência econômica, é um ataque à cultura.