"Esta é a solução humanitária correta para os residentes de Gaza e de toda a região", escreveu o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich.
Ele estava se referindo à "imigração voluntária" dos palestinos que ocupam o território, proposta apresentada por dois parlamentares de Israel em artigo no Wall Street Journal.
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Smotrich é um dos líderes do Partido Sionista Religioso, que compõe a coalizão governista de Benjamin Netanyahu.
Ele não está sozinho.
O projeto de retomar o controle completo de Gaza e manter uma presença militar de tempo indefinido no território é apoiado pelo próprio primeiro-ministro.
Temendo que Israel pretenda forçar palestinos a deixar Gaza, Egito e Jordânia já disseram que não aceitarão refugiados.
Hoje, mais de 8 milhões de palestinos já vivem no exílio, principalmente na Jordânia e Síria.
"Eu tô percebendo que Israel quer ocupar a Faixa de Gaza e expulsar os palestinos de lá. Isso não é correto, não é justo", disse hoje o presidente Lula, no programa Conversa com o Presidente.
Israel retirou 8 mil colonos de Gaza em 2005, encerrando presença física no território que havia se estabelecido depois da chamada Guerra dos Seis Dias, de 1967.
O primeiro-ministro da época, Ariel Sharon, preferia se concentrar no avanço de assentamentos de colonos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
Considerados ilegais pelas Nações Unidas, os assentamentos tem hoje 700 mil habitantes em território palestino ocupado.
Ele escreveu:
Uma célula com uma área pequena como a Faixa de Gaza, sem recursos naturais e fontes independentes de subsistência, não tem hipótese de existir de forma independente, econômica e politicamente, numa densidade [populacional] tão elevada durante muito tempo
De acordo com o estudo, publicado em 2017, as descobertas feitas na chamada bacia do Levante poderiam render U$ 524 bilhões a israelenses e palestinos.
Smotrich, o ministro que agora defende "imigração voluntária" dos moradores de Gaza, é o mesmo que fez um discurso em Paris dizendo que os palestinos não existem como etnia.
No pódium de onde ele fez o discurso havia um mapa da Grande Israel, que incluia a Jordânia e parte da Síria.
RETOMAR ASSENTAMENTOS
Num evento recente de entretenimento de tropas, o cantor israelense Hanan Ben Ari sugeriu retomar os assentamentos de Israel em Gaza e cantou que uma nova rave, como a atacada pelo Hamas no 7 de outubro, deveria acontecer nas praias de Gaza.
Escrevendo no Wall Street Journal, o influente diário financeiro dos Estados Unidos, dois parlamentares de Israel propuseram que países recebam imigrantes voluntários de Gaza.
Danny Danon, do Likud -- partido de Benjamin Netanyahu -- e Ram Ben Barak, do partido centrista Yesh Atid, escreveram que "O Ocidente deve aceitar refugiados de Gaza":
Precisamos apenas que um punhado de Nações do mundo compartilhem a responsabilidade de acolher os residentes de Gaza. Mesmo que os países acolhessem apenas 10.000 pessoas cada, isso ajudaria a aliviar a crise. A comunidade internacional tem um imperativo moral – e uma oportunidade – de demonstrar compaixão, ajudar o povo de Gaza a avançar em direção a um futuro mais próspero e trabalhar em conjunto para alcançar maior paz e estabilidade no Oriente Médio
A ideia subjacente ao artigo pressupõe que as condições de vida em Gaza se tornarão tão difíceis que milhares de pessoas decidirão sair voluntariamente do território palestino.
Outro parlamentar do Likud, Nissim Vaturi, concordou com os colegas:
Sim, precisamos que eles [palestinos] saiam daqui. Não tem como conviver com eles
O direito de retorno de refugiados em relação a seus lugares de origem é consagrado pela lei internacional.
Todos os palestinos legalmente registrados nas Nações Unidas como refugiados tem direito de retornar às suas terras ou propriedades de origem ou a receber compensação pelas perdas que tiveram.
Porém, para o descendente do morador de Gaza que nasceu no Brasil e tem apenas cidadania brasileira, por exemplo, esse direito de retorno pode ser questionado.
Numa entrevista recente ao canal 14, de Israel, o embaixador do país nas Nações Unidas, Gilead Erdan, acusou a UNRWA e a UNICEF, agências das Nações Unidas para refugiados e crianças, de serem contra Israel.
Ele afirmou que é preciso questionar a presença das agências em Gaza depois do atual conflito.
Há 1,7 milhão de refugiados registrados em Gaza.
Os mais pobres vivem em campos mantidos pelas Nações Unidas, que tem sido alvos de intensos bombardeios de Israel ao longo dos últimos 40 dias.
Eliminar a UNRWA de Gaza equivale a acabar com a ajuda humanitária aos palestinos do território.
O empobrecimento da população favorece os planos de "imigração voluntária".
Israel já propôs estabelecer "campos de refugiados" no Sul de Gaza para a população que fugiu do Norte, medida rejeitada por autoridades palestinas.
*Este post foi atualizado para inclusão de links e informações