A discussão de propostas de economia para a Argentina tem recebido destaque nos debates eleitorais entre os candidatos que disputarão o segundo turno das eleições presidenciais, Sergio Massa (Unión por a Pátria) e Javier Milei (La Libertad Avanza). O regime econômico do país ainda gera dúvida nos eleitores: afinal, a Argentina é capitalista ou comunista?
A Argentina enfrenta uma grave crise econômica, cenário que possibilita erros de interpretação quanto ao sistema político e econômico adotado pelo país. Em setembro, a inflação anual argentina avançou para 138,3% e, em outubro, o Banco Central da República Argentina elevou a taxa básica de juros (Leliq) para 133% ao ano.
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Nas eleições, a população argentina analisa alternativas de saída do cenário na economia. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), da Argentina, 40,1% da população argentina vivia abaixo da linha da pobreza no primeiro semestre de 2023, número equivalente a 11,8 milhões de habitantes.
Qual o sistema econômico da Argentina?
A Argentina possui uma ala da esquerda que compete diretamente com a direita por cargos políticos, sobretudo com o kirchnerismo, ideologia política aplicada na Presidência do país por Néstor Kirchner (2003-2007) e, em seguida, por sua esposa Cristina Kirchner (2007-2015). No espectro político, o movimento se encontra entre a centro-esquerda e a esquerda.
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O kirchnerismo é uma sucessão da ideologia do peronismo, advinda dos governos de Juan Domingo Perón entre 1946 e 1955 e 1973 a 1974. O peronismo, declarado "nem capitalista, nem comunista", é uma terceira via com um governo centralizado, populista e uma política econômica de desenvolvimento industrial nacional e defesa dos direitos trabalhistas.
Desde 2019, o país voltou a ser governado por um kirchnerista, o atual presidente Alberto Fernández, que tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner. Apoiada por uma política econômica de desenvolvimentismo industrial, a Argentina se recuperou do colapso da economia em 2001, porém viu a inflação seguir em alta. Em junho de 2021, Fernández afirmou que "O capitalismo não deu resultados", no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo.
"É impossível consolidar um projeto de país se não consolidamos uma burguesia nacional verdadeiramente comprometida com os interesses da Argentina, um processo forte de capitalismo nacional que nos permita recuperar decisões perdidas em todas as áreas da economia", declarou Néstor Kirchner, em 29 de setembro de 2003, durante evento de assinatura data de apresentação do Programa de Assistência ao Crédito em Operações de Curto Prazo
Também é verdade que é essencial que o capital nacional participe ativamente na vida económica argentina na reconstrução de um processo que consolide - como disse ao presidente da ADEBA [Associação de Bancos Argentinos] - a burguesia nacional na Argentina.
O Partido Socialista (PS), fundado em 1896, é o terceiro maior partido político argentino em número de filiados – com cerca de 124 mil, atrás apenas do Partido Justicialista (PJ), do kirchnerismo e peronismo, e do União Cívica Radical (UCR), conforme o Registro Nacional de Afiliados a los Partidos Políticos, da Câmara Nacional Eleitoral (CNE). Contudo, o país não é socialista, muito menos comunista.
O país poderia ser mais capitalista na visão de Javier Milei, candidato à Presidência que propõe a dolarização da economia para reduzir a inflação anual, corte nos gastos públicos e eliminação de despesas improdutivas do Estado – a exemplo do fechamento de 10 dos 18 ministérios, no viés de "estado mínimo".