Abatido e segurando as lágrimas, o repórter Saed Swerki, que trabalha para o serviço em árabe da Russia Today, a TV estatal da Rússia, anunciou ao vivo que tinha perdido a prima e quatro filhos dela no bombardeio ao hospital do Povo Árabe, em Gaza.
Durante uma conversa com o estúdio, ele explicou:
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Agora não é hora de lamentar, caso contrário você pode perder a cabeça. Agora é a hora de enviar uma mensagem ao mundo inteiro de que há pessoas que não querem morrer em silêncio. Pela vontade de Deus, nos tornamos a voz daqueles que não tem voz. Às vezes lutamos contra nossas emoções porque temos filhos pequenos, pais e netos.
Israel e Hamas trocam acusações sobre o episódio, que matou 471 pessoas, na contagem do Ministério da Saúde de Gaza.
Um míssil de Israel ou um foguete que falhou da Jihad Islâmica -- são as versões para a explosão que matou bebês, crianças e mulheres que tentavam se proteger no entorno do hospital.
Quatro familiares da esposa do repórter já haviam sido mortos no dia 11 de outubro, quando o prédio em que residiam foi demolido por um ataque de Israel.
Acompanhar a guerra de perto tem sido uma tarefa árdua para jornalistas.
De acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas, 19 profissionais de mídia foram mortos desde o início do conflito, em 7 de outubro: 15 palestinos, 3 israelenses e um libanês.
Num episódio em território libanês, um tanque israelense acertou em cheio um automóvel onde estavam um repórter da Reuters -- que morreu na hora -- e dois profissionais da rede árabe Al Jazeera. Em nota, a emissora lamentou:
O ataque de Israel à equipe da Al Jazeera é um flagrante desrespeito aos padrões de segurança internacionais que distinguem claramente a imprensa, pois eles bombardearam e queimaram um veículo de transmissão da Al Jazeera, apesar da presença de nossa equipe ao lado de outros meios de comunicação internacionais em um local acordado
Desde que foi criada, a Al Jazeera tem um histórico de se tornar alvo de ataques militares, inclusive no Iraque e no Afeganistão.
Em maio do ano passado, um soldado israelense matou a repórter palestina da Al Jazeera Shireen Abu Akleh, também cidadã dos Estados Unidos.
Ela acompanhava uma ação do exército de Israel no campo de refugiados de Jenin.
Shireen tinha 25 anos de experiência e era um rosto reconhecido em todo o Oriente Médio.
Inicialmente, Israel negou participação na morte da repórter, dizendo que ela estava em meio a fogo cruzado.
Ficou demonstrado, no entanto, que não havia militantes palestinos na área onde Shireen foi morta.
Depois de grande controvérsia, Israel afinal assumiu que Shireen provavelmente foi morta "acidentalmente", mas ainda hoje se nega a identificar o responsável pelos disparos.
O funeral de Shireen foi atacado pela polícia israelense, que também invadiu o hospital de onde saiu o corpo, o São José, em Jerusalém Oriental, ferindo funcionários.
A cerimônia atraiu milhares de pessoas, que cantaram slogans denunciando Israel.
Uma nota das Igrejas Cristãs da Terra Santa, responsáveis pelo hospital, acusou Israel de "invasão e uso desproporcional da força" e "violação grave das normas e regulamentos internacionais, incluindo o direito fundamental à liberdade religiosa".
Saed Swerki, o repórter da Russia Today, continua trabalhando:
Quando estou no ar e ouço algum tipo de explosão, imediatamente temo que meu neto tenha acabado de ser despedaçado. Esse é o destino em tempos de guerra.