Após mais uma bateria de bombardeios israelenses sobre a cidade de Gaza na última madrugada, o bairro de Tal al-Hawa – localizado junto ao mar na região sul da cidade palestina – amanheceu completamente destruído nesta segunda-feira (16). De acordo com relatos de moradores, que comparam o ocorrido ao próprio Holocausto e descrevem um "cheiro de morte" por todos os lados, este foi o ataque mais severo desses 9 primeiros dias da guerra oficialmente declarada por Israel ao enclave palestino.
Os novos ataques aéreos ocorrem em contexto em que Israel anuncia uma ofensiva terrestre contra a cidade de Gaza, supostamente para libertar reféns do Hamas, além de capturar (ou matar) seus líderes. Além das casas, prédios e vidas humanas, os bombardeios também destruíram as esperanças de um cessar-fogo ao sul de Gaza que permitisse a saída de civis pelos corredores humanitários.
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A Revista Fórum está em contato com o jornalista Saher Madkour, palestino, morador da Faixa de Gaza e altamente reconhecido entre seus pares, que tem nos repassado uma série de imagens e relatos, em tempo real, da situação. Através dele tivemos acesso ao depoimento de um morador a respeito desse último ataque.
“O cheiro da morte está em cada respiração de ar que sentimos. Não havia uma única casa no bairro de Tal al-Hawa, ao sul da Cidade de Gaza, que não fosse atingida por mísseis israelenses em suas janelas ou casas. Para os moradores do bairro, a noite foi como um holocausto. Tudo foi atingido pelo fogo”, diz o depoimento de um morador coletado por Madkour.
Um aspecto importante dos bombardeios, que comumente aparecem nos noticiários como um frio e mero processamento de dados e números de mortos e desabrigados, é justamente o sofrimento humano de quem atravessa esses momentos de terror. Imagine-se nessa situação ao lado dos seus entes queridos, escondido em algum abrigo improvisado, enquanto as armas mais avançadas do planeta são disparadas sobre sua casa e a dos seus vizinhos. Pois é exatamente isso que o morador relata.
“Eu não acredito que eles [as famílias que viviam nas casas destruídas por Israel] esquecerão o estado em que estavam naquela noite de terror, medo e ansiedade. Não posso deixar de imaginar como foram aqueles 60 minutos para as crianças e mulheres enquanto os aviões da ocupação lançavam um cinturão de fogo sobre o bairro. A cada 30 segundos, um projétil descia do céu em Tal al-Hawa, que está repleto de torres residenciais habitadas por milhares de civis”, descreve o morador.
A Faixa de Gaza tem de lidar não apenas com os ferozes bombardeios, mas também com um bloqueio total do território por parte do Estado de Israel. Água, comida, eletricidade, combustível e outros itens básicos sobrevivência não podem entrar no enclave palestino. E isso não começou no último dia 7 de outubro, mas tal situação de bloqueio com bombardeios periódicos, persiste pelo menos desde 2007, quando o Hamas venceu eleições e passou a governar Gaza. Nesse contexto, o morador entrevistado por Saher Madkour finaliza seu relato falando a respeito da destruição de um templo religioso na região.
“A mesquita de Al-Amin foi um alvo permitido para os mísseis americanos que chegaram a Israel em meados da semana passada, e um cenário de crimes cometidos por pilotos israelitas e americanos contra aqueles que tentavam sobreviver a essas explosões e ao seu fogo incendiário. As ações das aeronaves F-16 e F-35 na área afetada pelo holocausto destruíram as ruas, corredores e edifícios, transformando-os em ruínas”, concluiu.
Veja fotos da destruição de Tal al-Hawa