DOCUMENTÁRIO MACABRO

Quem é o Canibal de Atizapan, da estrondosa séria produzida pela Justiça do México

Andrés Mendoza Celis, preso em 2021, é o maior feminicida da história do país. Ele cozinhava parte dos corpos e servia em pratos típicos para a vizinhança e até a policiais. Produção da Suprema Corte bate recordes de audiência

Andrés Mendoza Celis..Créditos: Redes sociais/Reprodução
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Uma série documental produzida pela Justicia TV, a emissora estatal oficial da Suprema Corte do México, foi alçada ao estrelato nas redes sociais e na imprensa de todo mundo pela audiência astronômica que atingiu. Transmitida apenas por sinal convencional de televisão e sem serviços de streaming a disponibilizando, cada um dos quatro primeiros episódios de “O Canibal de Atizapan” chegou a mais de 34 milhões de lares no país.

Como fruto de uma história real, para muitos leitores de fora do México, ficou uma pergunta: Mas quem foi, ou é, o “Canibal de Atizapan”?

Andrés Filomeno Mendoza Celis está vivo e tem 74 anos. Morava na localidade de Atizapan de Zaragoza, no município de Ciudad López Mateos, nos arredores da Cidade do México, um dos maiores aglomerados urbanos do planeta. Nascido em Zimatlán de Álvarez, no Estado de Oaxaca, Celis foi ainda jovem tentar a vida na capital. Até maio de 2021 ele era apenas um “vizinho boa gente”, que por anos foi açougueiro e até fez parte de várias campanhas políticas na região onde vivia.

O que ninguém sabia é que o senhorzinho que gostava de ir a bares dançar, bater papo com as mulheres e tomar uns tragos, afável com todos, era o maior feminicida da história do México. Até agora, já foram encontrados mais de 4 mil fragmentos ósseos de 19 de suas vítimas, mas a polícia já tem certeza que ele matou pelo menos 30 mulheres, uma criança e um homem adulto. Os promotores do caso acreditam que ele passou mais de 30 anos cometendo os homicídios.

O caso de Celis seria apenas mais um de serial killers num dos países mais violentos do mundo se não fosse por uma peculiaridade: hábil com a faca após décadas a manejando em açougues, ele retalhava suas vítimas com precisão, cozinhava as partes “mais nobres” dos corpos em pratos relativamente sofisticados (vários livros de gastronomia foram achados em sua residência) e servia a comida para a vizinhança, amigos e até para policiais de Atizapan. Para disfarçar o gosto “diferente”, falava que tudo era preparado com cortes de um tipo de javali selvagem do México que é usado na culinária.

A polícia, em mais de um ano de investigações incessantes que levaram o caso de Celis a todos os canais de TV e à internet, já descobriu que ele costumava abordar a maior parte das mulheres que matava nos bares com música que frequentava, ou no dia a dia mesmo. A desculpa era sempre alguma oferta de emprego ou de serviço avulso que poderia render algum dinheiro, convencendo-as com essas propostas a ir até sua casa.

Ele tinha preferência por mulheres “de meia idade, baixinhas e gordinhas”, embora algumas fossem jovens. Sobre o homem adulto e a criança mortos e identificados pelas autoridades, ainda não ficou claro em que circunstâncias esses crimes ocorreram. Em sua casa, inúmeras cadernetas preenchidas e anotadas foram encontradas com nomes, partes dos corpos e o peso de cada um desses “cortes”.

Pratos à base de carne, como o burrito, carne enchilada, chilli com carne ou carnitas eram algumas das receitas que Celis produzia com os despojos humanos das mulheres assassinadas. Ele também tinha preferência por fazer costelas e bistecas fritas. Descrito como calado, tranquilo e muito agradável, os alimentos feitos eram facilmente aceitos pelos moradores do bairro e outros trabalhadores que atuavam na região, como os agentes de segurança.

Como se diz no jargão policial, sua “casa começou a cair” quando uma mulher casada com um policial desapareceu, no início do ano passado. Como ela era vista falando com Celis, o que gerava até boatos de traição, o marido foi então até o número 22 da Rua Margaritas, no bairro de Lomas de San Miguel, em Atizapan, e “enquadrou” o idoso de 74 anos, perguntando sobre Reyna.

Com uma atitude suspeita, Celis desconversou e disse que não sabia de nada, tratando de despachar o policial furioso. Só que o agente da lei que buscava a própria mulher resolveu forçar a porta, perdeu a paciência com o “tranquilo” vizinho e ingressou no imóvel. O que ele encontrou foi uma cena bárbara: Reyna, sua esposa, em cima de uma bancada, toda retalhada, pronta para ser usada por Celis em um de seus macabros pratos.

A notícia correu como um rastilho de pólvora na sociedade mexicana e no fim do dia todo o país já se assombrara com a história de terror do assassino de reputação até então ilibada. A coisa só piorou nos dias seguintes, porque várias partes de corpos, ossos e restos mortais enterrados no quintal ou mantidos em refrigeradores foram sendo descobertos por policiais e peritos.

Detido há pouco mais de um ano, Celis foi sentenciado pela primeira vez em março deste ano à prisão perpétua e cumpre pena no presídio de Tenango del Valle, aguardando outros inquéritos e processos que devem render a ele outras condenações do mesmo tipo.

Veja o trailer e outras publicações sobre a série "O Canibal de Atizapan":