O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos criticou o governo Bolsonaro pela resposta "extremamente lenta" nas buscas pelo servidor da Funai Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Os dois estão desaparecidos desde domingo (5).
Durante coletiva na manhã desta sexta-feira (10), em Genebra, o órgão internacional pediu às autoridades brasileiras e o governo Jair Bolsonaro que "redobrem" seus esforços e que mais recursos sejam dispendidos nas buscas por Pereira e Phillips.
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Além disso, a ONU lamentou comentários de autoridades que buscaram minimizar o caso e lembrou que a proteção de militantes e jornalistas é "responsabilidade do Estado".
Ravina Shamdasani, porta-voz da agência, afirmou que está preocupada com "os constantes ataques e perseguições enfrentados por defensores dos direitos humanos, ambientalistas e jornalistas no Brasil".
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"Insistimos que o governo precisa empregar todos os meios disponíveis para ajudar a localizar os dois homens. Infelizmente, a resposta inicial foi lenta", declarou Ravina.
A porta-voz do Alto Comissariados para Direitos Humanos também afirmou que, após um começo lento, as investigações, em um segundo momento, ganharam outro ritmo.
"As autoridades têm a responsabilidade de protegê-los. Infelizmente, os passos iniciais foram lentos demais. Agora, damos boas-vindas aos passos que estão tomando e esperamos que redobrem os esforços. E que, no futuro, haja uma forma mais robusta para lidar com tais incidentes", disse Ravina.
No entanto, Ravina criticou a falta de informações sobre o desaparecimento de Pereira e Phillips.
"Aventura perigosa"
O presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou nesta terça-feira (07) que o servidor da Funai, Bruno Pereira, e o jornalista Dom Phillips, que estão desaparecidos desde domingo (05) após um trabalho de campo em Atalaia do Norte, na Amazônia, podem ter sido executados.
"O que nós sabemos, até o momento, é que no meio do caminho teriam se encontrado com duas pessoas, que já está detidas pela Polícia Federal, estão sendo investigadas. E realmente duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser acidente, pode ser que eles tenham sido executados, a gente espera e pede a Deus para que sejam encontrados brevemente", declarou Bolsonaro ao SBT News.
Suspeito preso
Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, de 41 anos, teve sua prisão temporária decretada pela juíza Jacinta Silva dos Santos, nesta quinta-feira (9). Ele é suspeito de envolvimento no desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.
A prisão foi decretada durante a audiência de custódia, que aconteceu na tarde desta quinta.
Uma testemunha declarou que viu Pelado carregar uma espingarda e fazer um cinto de munições e cartuchos pouco depois que Bruno e Dom deixarem a comunidade São Rafael com destino à Atalaia do Norte, na manhã de domingo (5), dia do desaparecimento e ambos.
A testemunha afirmou, ainda, que o suspeito é um “homem muito perigoso” e que vinha prometendo “acertar contas” com o indigenista, conforme informações do Globo.
Logo em seguida de Bruno e Dom deixaram a comunidade, um colega de Pelado foi visto em seu barco com o motor ligado em ponto morto, à espera do suspeito.
Testemunha afirma que Pelado e outros homens fizeram “algo ruim”
A testemunha também destacou que não “resta dúvida” de que ele e outros homens fizeram “algo ruim” com o barco em que o indigenista e o jornalista estavam, segundo a Reuters.
A história bate com o que já se sabia, que Pelado e comparsas foram vistos por ribeirinhos trafegando em uma lancha, em alta velocidade, logo atrás da embarcação dos dois desaparecidos.
Polícia Federal encontra sangue na embarcação de Pelado
O comitê de crise na Política Federal (PF) divulgou que encontrou vestígios de sangue na lancha de Pelado. Ele foi preso em flagrante por porte de munição de uso restrito e é suspeito de envolvimento no desaparecimento de Bruno e Dom.
O material coletado na embarcação foi encaminhado para Manaus (AM), em um helicóptero tático Black Hawk, para passar por perícia.
“Resta saber, comprovar, com o laudo, se se trata de sangue humano ou de animal. Ainda não temos essa confirmação, mas a perita informou que o laudo sairá em tempo hábil", afirmou o delegado de Atalaia do Norte, Alex Perez Timóteo.
Com informações do Jamil Chade, no UOL