RACISMO

Teoria da ‘grande substituição’ se espalha na direita mundial e motivou atirador dos EUA

Tese racista é um amontoado de bobagens e teorias conspiratórias que vem fazendo a cabeça de grupos reacionários em vários países, sob a alegação de que os brancos serão extintos

Supremacista branco em ato nos EUA.Créditos: Vox/Reprodução
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Payton S. Gendron, de 18 anos, se armou com dois fuzis automáticos e uma espingarda, saiu de sua casa, na pequena cidade de Conklin, no Estado de Nova York, no último sábado (14), e dirigiu até Buffalo, onde disparou a esmo num supermercado de um bairro majoritariamente habitado por negros, matando 10 pessoas e ferindo outras três. Preso, o jovem assumiu-se como um supremacista branco, disse que o ataque tinha motivação racial e que era um adepto da “teoria da grande substituição”.

Mas o que é a expressão que define esse conjunto de teses estapafúrdias e teorias conspiratórias, antes restrita a pequenos grupos de extrema-direita e que de uns tempos para cá vem se espalhando entre reacionários do mundo inteiro?

A tal “teoria da grande substituição” foi desenvolvida há 10 anos pelo filósofo francês Renaud Camus (que não tem qualquer parentesco com o famoso escritor franco-argelino Albert Camus). Sem qualquer base científica ou comprovação por meio de pesquisas críveis, nela o autor afirma que há um “genocídio branco” perpetrado por populações não brancas, como árabes, negros, asiáticos e latinos, que estaria sendo levado a cabo por meio de uma taxa de natalidade maior desses grupos étnicos, que aumentariam suas populações e fariam com que os brancos, que teriam menos filhos, ficassem como uma minoria a ser dominada, sobretudo culturalmente. Na prática, a tese é um emaranhado de bobagens e pensamentos conspiratórios que tem como única intenção espalhar e “fundamentar” o racismo nas hostes mais conservadoras e reacionárias que habitam os grupos de extrema-direita em várias nações.

No meio dessa maluquice sem um só traço de realidade, Camus sugere ainda que tudo isso seria fomentado pelos judeus, para que dessa forma assumissem o controle global, o que denota tão somente a face antissemita de sua desconexa teoria.

A “grande substituição” foi mencionada e serviu de combustível para outros massacres ocorridos antes da chacina de Buffalo do último final de semana, desde o ataque à sinagoga californiana de Poway, em 2019, passando pelo atentado que matou 51 muçulmanos a tiros em duas mesquitas na Nova Zelândia, na cidade de Christchurch, também naquele ano, até uma dezena de ações com vítimas em massa em vários locais do território norte-americano.

Quem deu grande difusão à teoria racista de Camus foram figuras influentes do Trumpismo, algumas até com programas televisivos de grande audiência na TV dos EUA, como é o caso de Tucker Carlson, apresentador da Fox News que nos últimos anos abordava a tese estapafúrdia ao vivo como se aquilo tivesse algum pingo de verdade, inclusive fazendo acusações contra políticos democratas, que segundo ele apoiavam os "objetivos da teoria”.

Ao notar o grande mal que suas ideias geraram no Ocidente, Renaud Camus passou a recusar qualquer vínculo ou apoio com autores de massacres ocorridos em muitos países, embora numa entrevista dada ao The New York Times em 2019 ele tenha confessado que ainda acredita em suas ideias e que elas são "verdadeiras".