A Subsecretária de Estado para Assunto Políticos dos EUA, Victoria Nuland, está no Brasil para a realização de duas agendas: "Encontro com jovens empreendedores do Brasil" e "Diálogo de Alto Nível Brasil-Estados Unidos da América". Poderia ser apenas uma visita sem qualquer relevância, mas, dado ao currículo de Nuland e ao atual contexto político do Brasil e da América Latina, a agenda oficial parece esconder os reais objetivos de tal missão diplomática.
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Da União Soviética à Ucrânia
Nuland inicia a sua carreira diplomática na gestão do ex-presidente Democrata Bill Clinton (1993-2001), quando foi chefe de gabinete do vice-secretário de Estado Strobe Talbolt, responsável pelos assuntos ligados a antiga União Soviética. No governo de George Bush (2001-09), a agente trabalhou junto com o ex-vice-presidente Dick Cheney e exerceu importante papel como conselheira durante a Guerra Iraque.
Ainda no governo de Geoge W. Bush, Victoria Nuland assumiu o cargo de embaixadora dos EUA na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em Bruxelas. À época, Nuland fez o meio campo entre os EUA e a União Europeia no que diz respeito a ocupação estadunidense no Afeganistão.
Mas foi na gestão de Barack Obama (2009-17) que Victoria Nuland se tornou uma figura conhecida nacionalmente e internacionalmente, pois, foi designada para manter diálogo com os grupos por detrás das manifestações na Ucrânia, em 2014. O papel da funcionária dos governos dos EUA era garantir financiamento aos golpistas ucranianos.
Uma reunião realizada em 2014, que foi gravada, mostra Nuland confirmando o empréstimo de US$ 5 bilhões aos grupos da Ucrânia que mobilizaram as manifestações que levaram ao golpe que derrubou o presidente pró-Rússia Viktor Yanukovych.
Após a realização do golpe na Ucrânia, Nuland se tornou manchete nos principais jornais dos EUA ao ter uma conversa com o embaixador dos EUA na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, vazada. No diálogo, Nuland e Pyatt dialogam sobre quem deve ser o próximo presidente da Ucrânia após a deposição de Viktor Yanukovych. Na conversa, a embaixadora faz ataques à União Europeia quando é avisada de que o Bloco não interviria no processo eleitoral da Ucrânia.
Braço direito de Antony Blinken, o Secretário de Defesa do governo Biden e que, recentemente declarou que é possível vencer a Rússia se os países aliados fornecerem as armas adequadas para a Ucrânia, fala esta que levou o ministro das Relações Exteriores da Rússia a emitir um alerta para a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial, Nuland deixou a gestão federal com a vitória do republicano Donald Trump, mas, com a eleição de Joe Biden reassumiu o seu posto de “especialista no Leste Europeu”.
"Jovens empreendedores"
É a partir do contexto biográfico que a visita misteriosa de Nuland deve ser lida e analisada.
Por meio de suas redes sociais, Victoria Nuland divulgou algumas fotos de seu encontro com "jovens empreendedores" do Brasil. No entanto, e isso também foi notado por alguns internautas, nenhum dos jovens que aparecem nas fotos são conhecidos por trabalhos no tema referido por Nuland. Também não há qualquer menção se são parte de alguma universidade, ONG ou grupo organizado.
Além do encontro com os "jovens empreendedores", Nuland participou de uma reunião intitulada "Diálogo de Alto Nível Brasil-Estados Unidos da América" que teve como pauta "governança democrática, promoção da prosperidade econômica e fortalecimento em defesa e segurança e promoção da paz e do primado do Direito". O evento não consta na agenda oficial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Em entrevista à CNN Brasil, Nuland minimizou a posição neutra do governo Bolsonaro em relação a guerra entre a Ucrânia e a Rússia e afirmou que a parceria dos EUA com o Brasil "deve servir de exemplo para todo o hemisfério Sul".
Por fim, Nuland revelou que o governo de Joe Biden vai enviar - não mencionou datas - representantes ao Brasil para entender como a produção agrícola brasileira utiliza fertilizantes e, a partir daí, engajar o Brasil a produzir os seus próprios fertilizantes. Nas entrelinhas, os EUA querem que o Brasil pare de comprar fertilizantes russos, que representam 80% dos produtos no país.