Em comunicado realizado nessa terça-feira (8), o vice primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak, declarou que, caso a União Europeia e os Estados Unidos impusessem restrições a comercialização do petróleo russo, o fornecimento de gás à Europa pode ser cortado e o barril do petróleo precificado em US$ 300.
Algumas horas depois do comunicado do governo russo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nova sanção que proibiu a importação do petróleo russo para o seu país. Biden declarou que a medida foi tomada em comum acordo com os países da União Europeia.
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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ainda não se pronunciou sobre a mais novas sanção dos EUA, porém, o encaminhamento já está dado e ele pode sim resultar no corte do fornecimento de gás para a Europa.
Algumas agências de economia alertam que o bloco europeu pode aguentar até abril desse ano sem o gás russo e que a transição para outro fornecedor ou energia renovável não será fácil e nem rápida, mas que, se os governantes dos países europeus não quiserem ver os seus cidadãos no “escuro e com frio” devem começar a pensar neste momento no caminho da transição.
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Todavia, a Europa, pelo seu apoio às sanções dos EUA contra a Rússia, deve arcar sozinha com as sequelas econômicas devido ao corte do gás russo, visto que o país governado por Biden não depende do petróleo e nem do gás russo.
A Europa sobrevive sem o gás russo?
Mas, o que aconteceria se a Rússia, que é historicamente a maior fornecedora de gás natural da União Europeia (UE), cortasse o fornecimento da substância? Os europeus conseguiriam sobreviver?
Um estudo realizado pela ONG Bruegel revela que, caso a Rússia tivesse cortado o fornecimento de gás em fevereiro deste ano, o armazenamento atingiria um nível mínimo de 140 TWh em abril. Mas, se além do corte do fornecimento russo, as temperaturas estiverem extremamente frias, o armazenamento da UE pode ficar zerado até o final de março de 2022.
Todavia, o estudo da organização salienta que, a curto prazo e considerando toda a Europa, o bloco pode sobreviver a uma interrupção dramática nas importações de gás da Rússia. Mas, as coisas se complicam quando se leva em conta os mercados de cada país da Europa e um corte prolongado do fornecimento de gás.
A Europa deve se preparar
O relatório da Bruegel alerta a União Europeia de que ela já deve se preparar para um eventual corte total do fornecimento de gás natural por parte da Rússia, mas que a substituição da Rússia por outro fornecedor "não será fácil ou barata".
"Se a União Europeia for forçada ou estiver disposta a arcar com o custo, deve ser possível substituir o gás russo já para o próximo inverno sem que a atividade econômica seja devastada, as pessoas congelem ou o fornecimento de eletricidade seja interrompido. Mas no terreno, dezenas de regulamentos terão que ser revisados, procedimentos e operações usuais revisitados, muito dinheiro gasto rapidamente e decisões difíceis tomadas", diz trecho do relatório.
A Europa importa cerca de 40% do seu gás natural da Rússia, mas, entre todos os países o que mais pode ser afetado com o corte do gás russo é a Alemanha, pois, metade do gás utilizado pelo país vem do fornecimento russo.
Além disso, a Áustria, Hungria, Eslovênia e Eslováquia obtêm cerca de 60% de seu gás natural da Rússia, a Polônia, por sua vez, obtém 80%.
Se a Europa não quiser ficar no escuro e no frio, alerta o relatório da Bruegel, o bloco precisa começar a se organizar desde já.
Substituir o gás por fontes renováveis?
Alguns especialistas também afirmam que a substituição do gás por energias renováveis pode ser feita, mas que não é uma tarefa fácil e rápida. Ou seja, no curto prazo não é uma solução viável para Alemanha e Itália, que são altamente dependentes do gás russo.
A União Europeia possui um plano para tornar a Europa independente dos combustíveis fósseis russos até 2030 e este plano inclui diversificar o fornecimento de gás e substituir o gás no aquecimento e na geração de energia.
Mas, não há saída fácil ou, como indica o relatório da Bruegel, sem decisões que recaiam nos bolsos dos cidadãos, pois a contas de luz devem ficar mais caras caso o gás russo deixe de ser fornecido.
Dessa maneira, o apoio da Europa às sanções dos EUA contra a Rússia deve gerar profundos prejuízos apenas para o bloco europeu, visto que o país governado por Biden não depende do petróleo ou do gás russo.
Apocalipse econômico
Em entrevista à BBC, Ángel Saz-Carranza, diretor do Centro de Economia Global e Geopolítica da espanhola Esade, declarou que a possibilidade da Rússia cortar o fornecimento de gás da Europa "é real, dado o momento" em que se encontra a guerra e as tensões com os EUA e a UE.
"A Rússia poderia cortar o gás e a Europa poderia aguentar dois ou três meses sem esse combustível, mas também é verdade que a Rússia perderia a única fonte de capital internacional que tem agora", pontua Carranza.
No entanto, o economista faz uma previsão apocalítica caso o gás russo pare de ser fornecido à Europa.
"Os preços disparariam, isso bloquearia a atividade de muitas indústrias e geraria um tremendo caos em um momento em que temos uma inflação muito alta na Europa e estamos tentando sair da crise da Covid", alerta Carranza.