Por mais que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, negue repetidamente estar planejando atacar a Ucrânia, países como os Estados Unidos acreditam que ele tenha tomado a decisão de invadir o país vizinho e esteja prestes a colocar o plano em prática.
Desde novembro, o presidente russo tem concentrado tropas em exercícios militares em torno da Ucrânia - 150 mil delas, pelo menos, segundo os EUA. Nesta segunda-feira (21), Putin reconheceu a independência de duas regiões separatistas ucranianas, Donetsk e Lugansk, e determinou que as tropas russas ocupem o país numa missão de "força de paz".
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Quando começou a crise entre Rússia e Ucrânia?
A crise entre as duas nações não é de hoje, e é fruto de um conflito que se arrasta desde o colapso da União Soviética e a independência da Ucrânia, em 1991. Em 2014, o conflito ganhou força, quando protestos na capital Kiev, conhecida como Euromaidan, forçaram a saída de um presidente amigo da Rússia depois que ele se recusou a assinar um acordo de associação da União Europeia.
O conflito entre as forças ucranianas e os separatistas de Donetsk e Lugansk eclodiu há oito anos, após a anexação da península da Crimeia pela Rússia. A sua independência, proclamada em referendo, não é reconhecida pela comunidade internacional.
A Ucrânia e os países ocidentais acusam a Rússia de apoiar os separatistas militar e financeiramente. Apesar de um acordo de cessar-fogo em 2015, os dois lados não viram uma paz estável, e a linha de frente mal se moveu desde então. Quase 14 mil pessoas morreram no conflito e há 1,5 milhão de pessoas deslocadas internamente na Ucrânia, segundo o governo ucraniano.
A Rússia quer atacar a Ucrânia?
Nesta segunda-feira (21), Putin reconheceu a independência das duas regiões e determinou que as tropas russas ocupem o país numa missão de "força de paz". O presidente solicitou à Assembleia Federal que apoie a decisão e, que em seguida, ratifique os tratados de amizade e assistência mútua com ambas as repúblicas.
Putin nega que esteja planejando atacar o país vizinho. Para o professor de Relações Internacionais Reginaldo Nasser o argumento da Rússia é que eles protegem a Ucrânia do governo central. Ou seja, a ideia seria "proteger" e não "atacar".
"Claro que isso pode, no limite, levar a um conflito com o governo da Ucrânia. Mas, pelo que temos até agora, das ações e declarações de ambas as partes, até o momento não tem porque a Rússia atacar a Ucrânia", afirma.
No entanto, alguns países como Estados Unidos e Reino Unido acreditam que Putin tenha tomado a decisão de invadir o país vizinho e esteja prestes a colocar o plano em prática. Joe Biden, por exemplo, disse que o presidente russo provoca tensão em regiões separatistas para criar uma oportunidade de ataque.
Rússia e Ucrânia devem entrar em guerra?
Para o especialista em relações internacionais Reginaldo Nasser é "praticamente improvável que haja um confronto entre Rússia e Ucrânia".
"A assimetria militar é muito grande, então pode ter um conflito em alguns pontos localizados, mas é improvável que haja alguma guerra. Acredito que, apesar de Putin ter enviado as tropas com o argumento de proteção da região, ainda tem muito campo para negociação e diplomacia", afirma.
Por outro lado, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse em entrevista à BBC que evidências sugerem que a Rússia está planejando "a maior guerra na Europa desde 1945". "Todos os sinais são de que o plano já começou."
Putin ordenou mesmo uma invasão?
Até o momento, Vladimir Putin nega que esteja ordenando uma invasão e afirma que enviou uma "força de paz" para proteger a Ucrânia do governo central. "Putin tem usado dos mesmos argumentos das potências ocidentais. O argumento que os EUA já usaram na Sérvia, no Iraque, no Afeganistão. De dizer: 'Tem uma população em uma região que precisa ser protegida do governo central, do governo que os oprime, então vou enviar uma força de paz", argumenta Nasser.
Como esse conflito afeta o Brasil?
Imediatamente, o conflito não afeta o Brasil. Porém, se houver uma escalada, pode impactar em todos os outros países do mundo, principalmente porque a Rússia é uma das principais fornecedoras de gás para a Alemanha.
"Isso pode gerar uma instabilidade no mercado de gás e energia e afetar, principalmente, a Europa, e por consequência o Brasil. Mas, diretamente, não há nenhuma relação", afirma Nasser.
Aleksandar Vucic, presidente da Sérvia, disse que um conflito entre os Estados Unidos e a Rússia poderia levar a uma crise maciça nos mercados e, portanto, ao colapso do mundo. Isso porque os dois países, junto da China, Ucrânia e Índia, são os maiores produtores de alimentos, sobretudo de grãos, trigo e milho.
Qual é a relação da Otan?
Nas últimas três décadas, os ucranianos procuraram alinhar-se mais de perto com as instituições ocidentais, como a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O governo do país insiste que Moscou não pode impedir Kiev de construir laços mais estreitos com a Otan, ou interferir em sua política interna ou externa.
Para Putin, no entanto, o país do Leste Europeu é uma “marionete dos EUA” e que, junto à Otan, transformaram a Ucrânia em um teatro de guerra. “É importante entender que a Ucrânia nunca teve uma tradição consistente de ser uma nação de verdade. Começaram a copiar modelos estrangeiros que não faziam parte de sua cultura”, disse Putin. “Vamos começar com o fato de que a Ucrânia moderna foi inteiramente criada pela Rússia, mais precisamente, pelos bolcheviques, a Rússia comunista. Esse processo começou quase imediatamente após a revolução de 1917”, completou.
Como o Ocidente está envolvido nesse conflito?
Estados Unidos e União Europeia estão se manifestando a favor da Ucrânia e contra a Rússia no conflito. Ursula von der Leyen, presidenta da Comissão Europeia, disse que o reconhecimento das nações separatistas por Putin "é uma violação flagrante do direito internacional" e que "a UE e os seus parceiros reagirão com unidade, firmeza e determinação em solidariedade com a Ucrânia".
Já o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que pode estabelecer novas sanções, sem determinar quais. No entanto, na opinião do especialista em Relações Internacionais Reginaldo Nasser, não é todo o Ocidente que está envolvido nas tensões entre os dois países.
"A França está fazendo todo o possível para não haver conflito, a Alemanha mais ainda porque depende muito do gás da Rússia, assim como os outros países europeus, com exceção da Inglatera, que tem dados declarações muito contundentes, mas não se vislumbra nenhum envolvimento mais direto. Nos EUA, Biden está alimentando, fazendo essa narrativa muito belicista desde dezembro, mas provavelmente também não vai enviar tropas para um confronto direto. O que pode acontecer é algum tipo de sanção econômica, é o máximo que pode chegar", opina.