ISOLAMENTO INTERNACIONAL

Ninguém se interessa por essa visita de Bolsonaro à Hungria, diz especialista

À Fórum, Giorgio Romano, professor de Relações Internacionais, afirmou que "não há uma pauta do Brasil com Hungria que justificasse" a ida de Bolsonaro ao país, a não ser ajudar na tentativa de reeleição do líder autoritário Viktor Orbán

Jair Bolsonaro e Viktor Orbán na Hungria.Créditos: Foto: Alan Santos/PR
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Jair Bolsonaro (PL), com um semblante diferente daquele observado enquanto esteve na Rússia, se sentiu à vontade na Hungria, governada primeiro-ministro de extrema-direita Viktor Orbán. Durante o encontro com o líder autoritário nesta quinta-feira (17), o presidente brasileiro se referiu ao húngaro como "irmão", deu risadas, encampou discurso de pauta moral e ainda proferiu o lema do integralismo, o fascismo brasileiro, "Deus, Pátria, Família"

À imprensa, a comitiva presidencial informou que foram assinados memorandos para cooperação nas área da Defesa, ações humanitárias e recursos hídricos, sem apresentar, no entanto, nada de concreto sobre essas acordos. 

Para o professor Giorgio Romano Schutte, especialista em Relações Internacionais que compõe o Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil da Universidade Federal do ABC (OPEB/UFABC), o objetivo real da viagem de Bolsonaro à Hungria foi ajudar a campanha eleitoral de Viktor Orbán, que tentará se reeleger em abril e enfrenta uma forte união da oposição local. 

"O Bolsonaro foi à Hungria, não o Brasil. Com a pauta da extrema-direita e com uma campanha eleitoral. Bolsonaro usou a máquina do Estado brasileiro pra ajudar o Orbán a enfrentar a eleição mais difícil que ele tem desde que começou esse jogo. Pela primeira vez a oposição está toda unida contra um candidato", disse Romano à Fórum

"Lá ele [Bolsonaro] foi fazer propaganda eleitoral. Não tem uma pauta do Brasil com a Hungria que justifique essa prioridade na relação", complementa o professor. 

Segundo o especialista, o encontro entre Bolsonaro e Orbán configura um recado do presidente brasileiro e do primeiro-ministro húngaro aos seus eleitores, com pretensões eleitorais, e nada tem a ver com relações internacionais. 

"Ninguém se interessa por essa visita de Bolsonaro à Hungria. É simplesmente uma afirmação que eles fazem a essa turma da extrema-direita", analisou Romano, adicionando que o titular do Palácio do Planalto tentará, entre seus apoiadores, capitalizar com essa viagem. 

"Putin não convidou o Bolsonaro, convidou o Brasil"

Giorgio Romano avaliou, na conversa com a Fórum, que a ida de Bolsonaro à Rússia para se encontrar com o presidente Vladimir Putin teve um caráter totalmente diferente da visita à Hungria. 

O professor afirma que "Putin não convidou o Bolsonaro, mas sim o Brasil". "O Brasil faz parte do G20, dos Brics, entrou no Conselho de Segurança da ONU como membro não permanente. O Brasil de fato é um país grande. Se o Lula fosse presidente ele teria sido convidado também. Isso é o Putin estrategista", analisa. 

Romano chama atenção, contudo, para o fato de que, quando Bolsonaro se vangloria do Brasil estar no G20 e nos Brics, "ele está falando de um resultado da política externa do Lula". 

"Lula teria aceitado o convite, acredito que sim. A diferença é que ele teria ido lá não só para ouvir, sair na foto e achar que é o cara, mas também com propostas, iria falar o que iam fazer na próxima reunião do Brics, como vão atuar na ONU, não só ouvindo o estrategista Putin, mas fazendo propostas", diz. 

Além de sugerir que ele teria sido o responsável pelo suposto recuo de tropas russas em meio à tensão na Ucrânia, Bolsonaro, após a conversa com o presidente russo, o agradeceu por uma oferta de fertilizantes. Giorgio Romano sentencia, no entanto, que Putin "não convidou Bolsonaro para vender fertilizantes". "É uma estratégia para mostrar ao mundo as alianças que ele [Putin] pode fazer. Tanto na África, como Venezuela, Argentina e relação com o Brasil", pontua. 

Segundo o professor, Bolsonaro está "evidentemente isolado" e, por isso, "achou o máximo ir lá [na Rússia] com os militares". "Não faz parte de uma política externa [a visita à Rússia], é um episódio que ele espera capitalizar na campanha dele", observa o especialista.