Opep e "7 irmãs" forçam crise energética para turbinar lucros, mantidos na pandemia

Com a retração econômica na pandemia, produtores promoveram corte histórico na produção mundial, mas retardam o aumento da oferta para lucrar com o preço do barril do petróleo, que bateu US$ 80. Valor na bomba só acompanha oscilação quando há aumento.

Produção de petróleo (Reprodução)
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Provocando abalos nas bolsas de valores e temores de inflação acelerada mundo afora, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e as empresas petrolíferas transnacionais - chamadas de "as 7 irmãs" - estão forçando uma crise de desabastecimento para elevar os preços do combustível fóssil e reaver a expectativa de aumento dos lucros antes da pandemia.

Nesta terça-feira (28), o pânico se espalhou pelos mercados em todo o mundo diante de uma crise de abastecimento de combustíveis na Europa e na China, que afeta diretamente o setor logístico e, consequentemente, encarece a distribuição de produtos e eleva a inflação.

O temor impactou diretamente a especulação sobre o preço do barril do petróleo tipo Brent - o petróleo cru - que bateu a casa dos US$ 80, enquanto o WTI, a referência dos Estados Unidos, chegou aos US$ 76,67. Os valores são os maiores de 2018, quando havia a expectativa de alavancagem na economia global.

Reaver perdas

O movimento, no entanto, é forçado pelos grandes exportadores do petróleo, que tiveram seus ganhos frustrados com os diagnósticos de Covid-19 no final de 2019 na China.

Em 2020, a pandemia se alastrou rapidamente pelo mundo e freou bruscamente a demanda pelo combustível.

Análise do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) sobre o impacto da Covid-19 no setor lembra que a retração econômica puxada pela China derrubou o preço do barril do petróleo, que foi negociado a US$ 25 no dia 27 de março.

A baixa recorde no valor não refletiu no valor dos combustíveis nas bombas. A manutenção dos preços, no entanto, foi fruto de um acordo entre a Opep e a Rússia, que aprovaram no dia 12 de abril um corte histórico na produção do petróleo.

O grupo, conhecido como Opep+ e se alinha aos interesses das "7 irmãs", acordou a redução da produção em 9,7 milhões de barris por dia em maio e junho para manter os preços, o que representou um corte de 10% na oferta global do petróleo.

Mesmo com o Brasil tendo uma empresa estatal, a Petrobras, que fez o país autossuficiente em combustíveis durante o governo Lula, o acordo foi elogiado pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e estabilizou os preços do petróleo no mundo.

"O Brasil congratula a Arábia Saudita e os países da Opep+ pelo acordo de ontem [9], que contribuirá para a estabilização do mercado de petróleo”, disse o ministro de Jair Bolsonaro (Sem partido), ressaltando que "a Petrobras também reduziu a produção de combustíveis em suas refinarias, em razão da retração dos mercados internacionais e da queda do consumo interno, em decorrência da covid-19”.

Retomada da economia

Diante da estabilização dos lucros durante a pandemia, os países e empresas exportadoras do petróleo retardaram a retomada da produção em 2021 mesmo diante do avança da vacinação que, consequentemente, provocou a retomada gradual da economia.

Em julho, a Agência Internacional de Energia (AIE) já previa a retomada de um aumento da demanda do petróleo que vai superar os níveis pré-pandêmicos.

"A demanda mundial de petróleo vai continuar se recuperando e até o fim de 2022 superará os níveis anterior à covid", disse a agência, que relatou que após um retrocesso recorde de 8,6 milhões de barris por dia (mbd) em 2020, a demanda mundial deve aumentar em 5,4 mbd este ano e em 3,1 mbd em 2022, quando alcançará 99,5 mbd de média.

"Os produtos petroquímicos se beneficiarão da forte demanda de plásticos, enquanto o comércio mundial apoiará a demanda de combustíveis marítimos", completa o relatório.

No mesmo mês, os ministros da Opep+ concordaram em aumentar a oferta do petróleo a partir de agosto. No entanto, a previsão feita pelos exportadores está bem abaixo das estimativas da retomada econômica.

De agosto a dezembro de 2021 o grupo aumentará a oferta em mais 2 milhões de bpd, ou 0,4 milhões bpd por mês, disse a Opep em um comunicado - um aumento pequeno se comparada à retomada econômica do mundo.

A estratégia da Opep+ e das 7 irmãs foi levada adiante. Mantém-se lucros na pandemia e se acelera os lucros depois dela.