Pela primeira vez na história, o Chile realizou uma eleição em que a paridade de gênero era regra tanto na conformação das listas quanto na ocupação de cadeiras. A luta das mulheres provocou um terremoto no sistema político e garantiu o protagonismo feminino no processo eleitoral da Assembleia Constituinte, tanto que em muitos dos distritos foram os homens os beneficiados.
Segundo levantamento feito pelo portal La Tercera com dados da plataforma Decide Chile, foram 17 casos em que foi necessária a aplicação da lei da paridade para evitar que um gênero ocupasse mais de 55% das vagas de uma lista eleitoral em determinado distrito.
13 desses casos ocorreram em listas de distritos, beneficiando 8 homens e 5 mulheres com as correções. Os outros 4 casos ocorreram na lista dos povos indígenas, garantindo a presença masculina em todas essas mudanças.
No saldo final, a composição da Assembleia será de 78 homens e 77 mulheres.
Apesar dessas correções terem beneficiado alguns homens no final, a lei garantiu que mulheres não fossem ignoradas nas nominatas e que pudessem receber financiamento. “Se não existisse o critério da paridade, as mulheres não teriam metade das candidaturas. Sem paridade as mulheres, não receberiam recursos", disse a cientista política Marcela Ríos, integrante da PNUD do Chile, aos jornalistas Rocío Latorre e Sebastián Rivas, do La Tercera.
"A afirmação de que se teríamos mais mulheres sem paridade é contrafactual. Sem a lei elas não teriam sido a metade das candidaturas e não teriam liderado as listas. O ponto central da paridade é que ela permite equilíbrio no resultado, aqui o que se buscava é um resultado igual", completou.
Em entrevista ao Fórum América Latina, na terça-feira (20), a cientista política Talita Tanscheit celebrou o resultado da Assembleia: "Se diz muito que essas pessoas que vão ocupar a Constituinte são, de fato, o rosto do Chile. Isso é muito significativo".
"Teve uma explosão feminista muito evidente. Essa questão de ter uma paridade de entrada e de saída é muito fundamental. Não foi o modelo brasileiro que a gente sabe que não funciona para nada. Houve uma cota sobre as candidaturas e sobre as cadeiras e isso induziu os partidos e as listas a buscarem candidaturas femininas competitivas e aí se comprovou que a questão não era falta de mulheres qualificadas, mas a falta de priorização por partes da elites partidárias às mulheres, na medida em que elas foram muito mais votadas que os homens", detalhou em entrevista a Lucas Rocha e Rogério Tomaz Jr.
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Com informações do La Tercera e do Uol