Lula na Argentina representa volta do governo Fernández às bases, diz especialista

A cientista social Ximena Simpson foi uma das palestrantes do Webinar “O que as eleições no Cone Sul devem representar para a região e para o mundo?”, promovido pelo escritório Crivelli Advogados

Alberto Fernández em conversa virtual com Lula - Foto: Reprodução/Twitter de Alberto Fernández
Escrito en GLOBAL el

A presença do ex-presidente Lula na Argentina pode auxiliar muito na recuperação do presidente Alberto Fernández em termos de popularidade. “A visita de Lula representa a possibilidade de o governo voltar às bases”, afirmou Ximena Simpson, cientista social e mestre e doutora em Ciência Política.

“Lula sempre foi uma referência como líder de massa e, por isso, o ato de amanhã pode refundar o governo e ajudar a evitar a derrota nas eleições presidenciais de 2023”, destacou.

Nesta sexta-feira (10), Lula participará, ao lado de Fernández e de Cristina Kirchner, de um ato cultural, na Plaza de Mayo, em comemoração aos 38 anos de democracia na Argentina e ao Dia dos Direitos Humanos.

A especialista avaliou, ainda, que qualquer que seja o grupo vencedor nas eleições presidenciais argentinas, a coalização de Fernández ou a de Macri, o país vizinho terá uma boa relação com o governo brasileiro, mas somente se Jair Bolsonaro não conseguir a reeleição.

Ximena foi uma das convidadas do Webinar “O que as eleições no Cone Sul devem representar para a região e para o mundo?”, realizado nesta quinta-feira (9), e promovido pelo escritório Crivelli Advogados.

O evento teve apresentação e mediação do advogado Ericson Crivelli, participação do professor Fabiano Santos como debatedor e, como palestrantes, além de Ximena, Talita Tanscheit, doutora e mestre em Ciência Política.

No início do Webinar, Ximena traçou um panorama do sistema político da Argentina, abordou as últimas eleições legislativas, realizadas em novembro, e apontou os principais desafios que serão enfrentados por Alberto Fernández, visando o pleito presidencial de 2023.

Eleições de novembro mostraram a força de duas coalizões na Argentina

Na avaliação da cientista social, o cenário das eleições de novembro mostrou a força de duas coalizões bem distintas: a que se baseia no peronismo, a qual pertence Fernández, e a outra mais ligada ao ex-presidente Mauricio Macri.

“A Argentina pós-pandemia vive uma situação muito difícil em relação à economia e às condições sociais, o que provocou descrédito do governo. No Senado, houve vitória da oposição, o que fez com que o peronismo perdesse maioria. Foi o voto-castigo ao oficialismo, capitalizado, principalmente, pela extrema direita, que também surpreendeu”, refletiu Ximena.

Em sua avaliação, houve, de fato, um enfraquecimento do peronismo e a ascensão nacional da coalização ligada a Macri. “O governo vai precisar ter muito jogo de cintura, visando as eleições de 2023”, acrescentou.

Ximena apontou os principais desafios que o governo Fernández terá pela frente: renegociação da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que é a maior da América Latina; aprovação do orçamento; e definição do plano plurianual.

Atualmente, Ximena é professora-pesquisadora da Escuela de Política y Gobierno da Universidad Nacional de San Martín, na Argentina. É, também, coordenadora do Observatório de Economia e Política Brasil-Argentina.

Cientista política diz que “Bolsonaro é a pior figura da extrema direita”

Talita Tanscheit, por sua vez, abordou o panorama eleitoral no Chile, que vive a expectativa da disputa em segundo turno entre a ultradireita, representada por José Antonio Kast, e a esquerda, com Gabriel Boric. A eleição, em 19 de dezembro, apresenta Boric como líder das pesquisas.

A cientista política chegou a fazer uma comparação entre o candidato direitista chileno e o presidente brasileiro: “Bolsonaro é a pior figura da extrema direita. Kast, pelo menos, sabe comer de garfo e faca, ou seja, é mais educado, pois vem de uma família que pertence à elite econômica local”.

Antes de abordar o Chile, Talita observou que, nos países do Cone Sul, a tradição histórica indicava a predominância dos partidos de direita no poder. Porém, ela mencionou os exemplos de Peru e Colômbia e as possíveis mudanças de cenário.

“No Peru, apesar das dificuldades de governar, houve a vitória de Pedro Castillo e, na Colômbia, o favorito às eleições presidenciais de 2022 é Gustavo Petro, de esquerda”, disse.

A disputa no Chile, segundo Talita, marcou a consolidação da extrema direita, talvez motivada pelo desgaste dos partidos tradicionais. Assim como na Argentina, a esquerda perdeu espaço no Senado.

“Apesar disso, Boric vem se recuperando durante a campanha e meu palpite é que ele vença no dia 19. A América do Sul precisa renovar as esperanças”, ressaltou.

Talita foi professora no Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro e é, desde 2013, pesquisadora do Observatório Político Sul-Americano (OPSA), sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).