Por Rogério Tomaz Jr., de Buenos Aires
Praticamente santificado pela direita brasileira quando venceu a eleição de 2015 – por uma diferença de 2,68% – na Argentina, o ex-presidente Maurício Macri causou comoção ao arrancar o microfone de um repórter do canal C5N e o atirar no chão, antes de entrar num tribunal, nesta quarta-feira (3), para depor sobre um processo no qual responde por um esquema de espionagem ilegal armado durante o seu governo (2015-2019).
Macri conseguiu uma proeza difícil: superou Jair Bolsonaro num gesto de violência física contra o trabalho da imprensa no qual esteve envolvido diretamente. O presidente brasileiro de extrema-direita atacou verbalmente inúmeros jornalistas em vários eventos. Entretanto, Bolsonaro jamais se envolveu em qualquer altercação física como a que Macri protagonizou na cidade de Dolores, onde foi prestar depoimento como investigado num processo movido pelas famílias das vítimas do submarino ARA San Juan, que afundou em novembro de 2017 com 44 tripulantes a bordo, após uma provável explosão cuja causa não foi determinada até hoje.
As imagens não deixam dúvida: Macri viu o microfone do canal progressista C5N, o único que lhe fez oposição durante seu governo, e usou o braço esquerdo para arrancar o equipamento das mãos do repórter e atirá-lo ao chão em seguida.
Assista.
Mais tarde, num programa de um canal a cabo que supostamente lhe pertence, embora ele não assuma, o La Nación+, Macri não teve pudor de expor todo o seu cinismo e disse que apenas tratou tirar do seu caminho o microfone da C5N, coincidentemente, o único canal crítico à sua gestão.
Repercussão
O jornal Página 12 repercutiu em seu site as principais reações de repúdio ao ataque do ex-presidente, que partiram inclusive da Associação de entidades Jornalísticas da Argentina (Adepa, na sigla em espanhol), a “ANJ argentina”, à qual pertence, inclusive, o Clarín, principal meio da direita do país.