QAnon: movimento extremista que invadiu Congresso dos EUA possui tentáculos no mundo, até no Brasil

São cristãos fundamentalistas, odeiam a esquerda e os movimentos sociais, e acreditam em um suposto “governo globalista” secreto, que promove a pedofilia. Consideram Trump como um verdadeiro super-herói. Quem arrisca dizer quem são os ídolos dos seus seguidores no Brasil?

Cartaz de apoiador da Teoria de QAnon, em ato de campanha de Trump (foto: Democracy Now)
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Entre as milhares de pessoas que promoveram a invasão do Congresso dos Estados Unidos nesta quarta-feira (7), a maioria tinha um laço em comum: eram seguidores da teoria conspiratória QAnon.

Tanto Jake Angelini (o sujeito com o chapéu com chifres), quanto Ashli Babbitt (a mulher que morreu por um tiro disparado pelos seguranças do Congresso) e muitos outros que realizaram os distúrbios na sede do Poder Legislativo estadunidense são seguidores de um movimento que parte da imprensa local considera como uma verdadeira seita.

Se especula que o QAnon surgiu por volta de 2017, a partir de um suposto alto oficial das Forças Armadas dos Estados Unidos, que envia mensagens criptografadas a esses seguidores sob o pseudônimo “Q” – logo, QAnon seria uma simplificação de “o anônimo Q”.

As ligações da teoria com o Brasil começam com a própria figura do Q, que é como um Olavo de Carvalho, com a vantagem de que não tem rosto e que o folclore a seu respeito diz que ele tem acesso aos mais altos escalões do poder nos Estados Unidos.

As mensagens de Q aos seus seguidores falam de uma suposta mega conspiração promovida por uma elite bilionários como Bill Gates e George Soros (entre outros). Apesar de serem grandes capitalistas, Q os descreve como “interessados em implantar o comunismo e elevar a China a nova potência hegemônica mundial” – invocam, para isso, o fato de que Soros nasceu na Hungria e, portanto, viveu sua juventude em um país comunista, entre outros argumentos.

Também odeiam qualquer tipo de movimento social, Me Too, Black Lives Matter e outros. São abertamente racistas e homofóbicos, por isso não é tão exagerado ligá-los aos supremacistas brancos – nem todo supremacista é QAnon, mas todo QAnon é um supremacista.

Ademais, afirmam que essa tal conspiração da “elite empresarial comunista” também está por trás de uma grande rede mundial de pedofilia. E, o mais importante, que o maior inimigo dessa organização, nos Estados Unidos e no mundo, é… Donald Trump!

Os QAnon são os mais convencidos defensores das acusações de fraude nas eleições estadunidenses de 2020, pois acreditam que isso teria sido uma forma de forçar a saída de Trump do poder, porque ele supostamente estaria desarticulando a mega conspiração dos “poderosos ocultos do planeta”. Por essa razão, muitos deles viajaram o país para realizar a invasão do Congresso nesta quarta.

Mas o QAnon já não é mais uma excentricidade dos Estados Unidos. O movimento já possui células em vários países do mundo: já foram registrados atos realizados por aderentes da teoria no Canadá, no Reino Unido, na Alemanha, na França, e também no Brasil. Entre esses indícios estão algumas pichações da letra “Q” em muros, ou canais da internet com vídeos em código.

Se nos Estados Unidos, eles são partidários de Donald Trump, no Brasil, quem o QAnon escalou como seu ídolo? Não é difícil adivinhar: Jair Bolsonaro, até mesmo por sua lealdade ao magnata novaiorquino, é o “soldado que ousou enfrentar a conspiração que se esconde nas instituições”.

Alguns meios estadunidenses defender a teses de que a identidade secreta por trás de suposto Q é ninguém menos que Steve Bannon, o mega empresário guru de Donald Trump e também da família Bolsonaro, o que também explicaria a idolatria dos seguidores por essas figuras, mas não existe evidência concreta de que isso seja verdade.

Os seguidores brasileiros do QAnon também têm suas próprias teorias, e seus próprios inimigos: odeiam o MST, a Globo, o STF, e acreditam em uma suposta aliança oculta entre PT e PSDB, e que essa suposta organização que atuaria nas sombras para impor o confinamento durante a pandemia e tudo mais que couber no rótulo de “comunistas disfarçados”.

Os QAnon podem parecer malucos, mas são extremamente organizados. Tanto que, apesar de serem cristãos fundamentalista, conseguem reunir dentro do movimento tanto os setores evangélicos defensores de Israel como a terra prometida, quanto movimentos antissemitas de tendência neonazista. Não significa que esses grupos convivam uns com os outros, mas ambos formam células distintas, mas convencidas da palavra de Q e dispostas a lutar por ela – e até a morrer por ela, como se viu nesta quarta.