Juíza concede liminar que proíbe aborto em província no Norte da Argentina

Movimento Feminista argentino considerou “ataque à democracia” esta decisão, que acontece um mês após a votação no Senado que aprovou a lei do aborto livre

Divulgação/Campanha do Aborto Legal
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Um mês após a histórica votação no Senado que aprovou a lei do aborto livre na Argentina, o país conheceu o primeiro obstáculo jurídico à nova legislação.

Nesta quinta-feira (28), a juíza Marta Beatriz Aucar, do 19º Tribunal Civil da Província de Chaco (no Norte da Argentina), proferiu uma liminar que suspende a chamada Lei de Interrupção Voluntária da Gravidez (IVE) em todo o território provincial.

A decisão da magistrada foi baseada no discurso conservador de reconhecimento dos direitos do nascituro, e também a um artigo da constituição da provincial que defende o “direito à vida e à liberdade, desde a concepção”.

Em uma passagem do documento que concede a liminar, a juíza Aucar argumenta que sua medida visa esclarecer uma suposta contradição “entre o estabelecido pelo governo nacional (a nova lei do aborto livre) e as províncias, quando ambos regulam sobre a mesma matéria, de forma a que a lei a ser aplicada seja a mais favorável à valorização dos direitos da pessoa humana”.

Interpretação que foi questionada pelo movimento feminista do país. A advogada Soledad Deza, uma das representantes da Campanha Pelo Aborto Legal Seguro e Gratuito na Argentina, afirmou em entrevista ao diário Página/12 que medidas como esta são um “ataque à democracia”.

“Isso mostra que a trincheira antidemocrática quer contra-atacar suspendendo o exercício de um direito e a implementação de uma política de saúde pública através de artimanhas jurídicas”, comentou a defensora.

Deza também afirma que a equipe jurídica da Campanha pelo Aborto Legal Seguro e Gratuito já trabalha em uma estratégia jurídica e política para reverter os efeitos da liminar na província de Chaco.

Também segundo o Página/12, movimentos conservadores regionais também realizaram pedidos de liminar contra a lei do aborto livre em outras províncias do país, que podem render decisões similares nos próximos dias.