As eleições legislativas na Argentina, programadas para o segundo semestre de 2021, não vão acontecer, segundo declaração do ex-presidente Eduardo Duhalde.
O político, que comandou o país durante alguns meses, durante a crise econômica de 2001 – após a renúncia de Fernando de la Rúa – fez as declarações durante o programa noturno “Animales Sueltos”, do canal de televisão AméricaTV. Segundo o ex-mandatário, o regime democrático na Argentina será interrompido entre o final deste ano e meados do ano que vem, antes das eleições legislativas.
“As pessoas não sabem, ou se esquecem. Quem ignora que o militarismo está se reerguendo na América atualmente é porque não sabe o que está acontecendo. Ou não sabemos que no Brasil existe um governo eleito democraticamente, mas comandado por militares? Ou não sabemos o que é a Venezuela, ou o que é a Bolívia? Sabemos que no Chile os movimentos deram as costas ao governo e parece que o Exército e a polícia se tornaram um fator de poder”, argumentou Duhalde.
A alusão ao Brasil se referia claramente ao governo de Jair Bolsonaro, que tem diversos ministros militares, além do próprio presidente ser um ex-capitão conhecido por suas apologias à Ditadura Militar brasileira.
Duhalde também disse que os militares tomarão o poder na Argentina porque o país “não aguenta mais” o modelo de gestão chefiado por Alberto Fernández – que conseguiu acordo para pagar as dívidas externas deixadas pelo desastre econômico de Mauricio Macri, e tem sido um dos países com melhores resultados na contenção da pandemia do coronavírus no continente, graças a políticas de isolamento social que a direita e os meios de comunicação tradicionais do país criticam, rotulando-as como “ataques à liberdade”.
Para completar, o representante da ala mais direitista do peronismo – oposta a Fernández, embora sejam do mesmo partido, o PJ (Partido Justicialista), espécie de PMDB argentino – afirmou que “não haverá eleições porque a Argentina é a campeã das ditaduras militares”.
A declaração causou repúdio em diversos setores, especialmente os defensores de direitos humanos. A ativista Estela de Carlotto, uma das mais reconhecidas líderes da organização Avós da Praça de Maio, afirmou que “este homem (Duhalde) tem que dar explicações sobre o que disse. Este é o período democrático mais longo da nossa história, desde 1983, quando terminou a última ditadura, que tem que ser a última, e que este homem diga isso, e parecia que estava até torcendo para que isso aconteça, é algo muito grave, e devemos estar atentos. Os organismos (de direitos humanos), não estamos de férias e não vamos ficar de braços cruzados”.