Nesta quarta-feira (22), um tribunal da cidade de Temuco, no sul do Chile, decidiu dar ao réu Martín Pradenas o benefício da prisão domiciliar, enquanto aguarda que o trâmite do seu caso seja finalizado. O anúncio revoltou diversos coletivos feministas do país andino, já que se trata de um sujeito envolvido em cinco casos de estupro entre 2010 e 2019, dois deles envolvendo menores de idade, e o último terminando com o suicídio da vítima.
Por volta das 13h desta quinta-feira (23), se escutaram fortes panelaços nas cidades de Santiago (capital do país), Valparaíso, Concepción e Temuco (onde ocorreram os cinco crimes pelos que Pradenas é acusado). Alguns dos protestos duraram mais de 10 minutos. Em Santiago e em Temuco também houve pequenas manifestações nas ruas, que furaram as quarentenas estabelecidas nessas cidades, em função da pandemia do novo coronavírus.
Inicialmente, o processo envolvia somente o caso de Antonia Barra, uma jovem de 21 anos que se suicidou em outubro de 2019, depois de ser estuprada por Pradenas, um mês antes. Porém, o caso encorajou outras quatro vítimas do acusado, algumas das quais mantiveram segredo guardado durante quase uma década, e o promotor Miguel Rojas conseguiu que todos os casos fossem incluídos em uma única ação, visando dar mais força a uma possível condenação – já que ganharam volume e contaram com os testemunhos das demais vítimas.
Apesar desse esforço, a Justiça chilena preferiu aceitar o argumento da defesa de Pradenas, de que “Antonia Barra saiu viva da casa de Pradenas, o que indica que sua abordagem não foi violenta, e que provavelmente esse nem mesmo foi o motivo pelo qual ela se suicidou” – segundo a tese do advogado Gaspar Calderón, para dizer que seu cliente “não oferece perigo à sociedade”.
Para contestar com essa alegação, amigas de Antonia apresentaram ao tribunal dois áudios nos quais ela contou que estava em depressão pelo abuso que havia sofrido.
Além do estupro de Antonia Barra, Martín Pradenas também é acusado por abusos cometidos em 2010, 2012, 2014 e 2018. Os dois primeiros casos envolvem meninas que eram menores de idade na época dos crimes – a vítima de 2010 tinha 16 anos naquele então, e a de 2012 tinha 13 anos. Antonia foi a única vítima com mais de 20 anos idade entre as atacadas pelo estuprador. O caso ainda não tem uma sentença definitiva.