Depois de muita especulação no dia anterior, o governo argentino oficializou, nesta terça-feira (9), a apresentação de um projeto de lei que, se aprovado, determinaria a intervenção do Estado na empresa agroexportadora Vicentin, uma das maiores do ramo no país.
O projeto do governo, segundo as autoridades, visa declarar a empresa como “de utilidade pública”. Segundo o próprio presidente Alberto Fernández, em declaração para os meios locais, esta “é uma operação de resgate de uma empresa em falência preventiva, e que permitirá sua continuidade, dará tranquilidade aos seus trabalhadores e garantirá a cerca de 3.000 produtores que eles terão alguém para quem continuar vendendo sua produção”.
Fernández também disse que, com essa decisão, a Argentina “está dando um passo em direção à soberania alimentar”.
Desde a segunda-feira, quando o projeto já era comentado como uma possível iniciativa governamental, a imprensa hegemônica já vinha atacando o presidente Fernández, acusando-o de agir com viés ideológico, o que o presidente respondeu na declaração da manhã desta terça, esclarecendo que “não estamos expropriando uma empresa próspera, e jamais faríamos isso. Estamos expropriando uma empresa que está em quebra”.
“Os argentinos podem estar tranquilos porque estamos dando um passo em direção na direção correta. Em um mundo pós-pandemia, em que a soberania alimentar estará no centro do debate, nós temos que nos preparar”, argumentou Fernández.
Sobre a Vicentin
A empresa Vicentin é uma das maiores agroexportadoras da Argentina. Possui cerca de 2,6 mil funcionários e, no ano passado, foi a principal exportadora de soja e girassol do país. Produz 29,5 mil toneladas de alimentos por dia, dos quais 85% são para exportação, além de ser a principal produtora argentina de biodiesel.
No entanto, a empresa acumula dívidas de mais de 1,5 bilhão de dólares, para seis bancos diferentes, e foi declarada oficialmente em quebra, em dezembro de 2019. Aliás, a empresa está envolvida em um escândalo, por ter recebido empréstimos de 300 milhões.
Ela também está envolvida em um escândalo político, por um empréstimo de 300 milhões de dólares que recebeu do Banco Nación (estatal), durante o governo de Maurício Macri. Um valor recorde que excedeu o limite legal estabelecido pela instituição. Curiosamente, a Vicentin foi a maior doadora da fracassada campanha de Mauricio Macri à reeleição, em 2019.