Após relativa estabilização da crise do coronavírus (diante de um total de 29788 mortes), a população francesa foi votar ao 2º turno das eleições municipais neste domingo (28). Com um novo recorde histórico de abstenção que pode atingir até 60%, o pleito aconteceu em 4820 cidades mobilizando cerca de 16 milhões de eleitores.
Planejadas para 15 de março (1º turno) e 22 de março (2º turno), as eleições foram adiadas por razão da pandemia. Realizadas inicialmente em quase 35 mil cidades do país, o resultado inicial mostrava uma significativa derrota de Emmanuel Macron (eleito em maio de 2017) e seu partido-movimento “República em Marcha”, resultado reafirmado na jornada deste domingo.
Das dez maiores cidades do país (em ordem Paris, Marseille, Lyon, Toulouse, Nice, Nantes, Strasbourg, Montpellier, Bordeaux e Lille), 8 ficaram com alianças de partidos progressistas (social-democratas, verdes, socialistas e comunistas). Sendo que somente duas cidades, nomeadamente Nice e Toulouse ficaram com a centro-direita tradicional, do partido “Os Republicanos”, fundado em uma linha liberal-conservadora por Nicolas Sarkozy.
Em Paris, a prefeita socialista Anne Hidalgo foi reeleita com cerca de 50% dos votos contando com o apoio dos verdes, deixando os candidatos apoiados por Sarkozy e Macron para trás.
Apesar de recuperar sua popularidade pessoal nos últimos meses, Macron acumula sua terceira derrota nas urnas desde que foi eleito presidente – após as eleições europeias, o 1º turno das eleições municipais em março e agora neste domingo.
Se nas eleições europeias, a derrota foi para o partido de extrema-direita, “Reencontro Nacional”, de Marine Le Pen; nas eleições deste domingo, Macron viu seus adversários de centro-direita, Os Republicanos e das alianças progressistas conquistarem conselhos da maior parte das cidades do país.
Apesar de Macron ter recebido mais de 65% dos votos em sua eleição e seu partido mais de 50% das cadeiras no parlamento, parece que os resultados favoráveis foram meros retratos do momento. Suas propostas liberais, como a simpatia à imigração, privatização da companhia estatais, as reformas trabalhista e previdenciárias marcaram os dois primeiros anos de seu mandato com protestos diários de sindicalistas e os famosos “coletes amarelos”.
Neste domingo (28), o contexto estava marcado pelos recentes protestos antiracistas e os reflexos políticos e econômicos da crise do coronavírus. Ao que tudo indica, a reeleição de Macron é uma missão quase “impossível”, por outro lado, o crescimento da extrema-direita na Europa parece recuar. O partido gaulista de Nicolas Sarkozy e as alianças progressistas podem liderar o cenário da política francesa no futuro próximo.
*Jornalista e sociólogo. Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização pela Universidade de Kassel (Alemanha).
*Este artigo não reflete, necessariamente a opinião da Revista Fórum