O jornal estadunidense Washington Post publicou uma análise nesta quinta-feira (27) apontando que as eleições de outubro de 2019 na Bolívia, que elegeram o ex-presidente Evo Morales, foram legítimas. Uma suposta fraude eleitoral foi apontada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e foi um dos motivos do golpe de Estado que derrubou Morales e instaurou um governo autoritário no país.
"Não parece haver diferença estatisticamente significativa na margem antes e depois da interrupção da votação preliminar. Em vez disso, é altamente provável que Morales tenha ultrapassado a margem de 10 pontos percentuais no primeiro turno", afirma análise publicada no Post.
O texto dos pesquisadores John Curiel e Jack R. Williams aponta que a OEA não embasa a argumentação da fraude em estudos prévios e não traz evidências significativas que suportem a tese.
O estudos aponta ainda que foram feitas 1000 simulações a partir dos resultados que foram divulgados previamente pelo Tribunal Eleitoral da Bolívia e que Evo Morales teria, pelo menos, 10,49 pontos percentuais de vantagem sobre o opositor Carlos Mesa. Dessa maneira, venceria em primeiro turno.
"Não há evidências estatísticas de fraude que possamos encontrar - as tendências na contagem preliminar, a falta de um grande salto no apoio a Morales após a interrupção e o tamanho da margem de Morales parecem legítimos. Em suma, a análise estatística e as conclusões da OEA parecem profundamente falhas", aponta o texto.
Desde que a OEA publicou as primeiras alegações (seguindo a oposição da Bolívia), a Fórum deu destaque para a fragilidade da tese. Acompanhamos a atualização dos dados e pode ser visto um crescimento gradual de Morales.
Em novembro, o Center for Economic and Policy Research (CEPR), com sede em Washington, apurou o processo eleitoral da Bolívia e não constatou fraudes na contagem das urnas ou na divulgação dos resultados. “Os lugares rurais e mais pobres, que tendem a favorecer Morales fortemente, são os mais lentos em transmitir os dados ou enviar as cédulas de voto os tribunais eleitorais”, afirmou o órgão.
Em dezembro, um grupo de 100 estatísticos e economistas de todo o mundo respaldaram o estudo do CEPR e apresentaram gráficos apontando as incongruências da OEA.
Em seguida, a OEA publicou um informe completo sobre as eleições e foi logo rebatida pelo Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (CELAG).
Segundo a CELAG, a OEA, em sua avaliação, trata principalmente do sistema de divulgação de dados prévios da apuração (TREP) e não os resultados consolidados. Além disso, o centro aponta que a entidade não traz denúncias contundentes capazes de comprovar uma fraude.
O centro aponta que na avaliação sobre o sistema de dados TREP, a OEA omite que: “1) este não é o sistema de contagem oficial, 2) o TREP não estava desenhado para apresentar dados acima de 90% em nenhum caso e 3) que as supostas irregularidades no procedimento de carga de dados, caso sejam verdadeiras, só justificariam uma irregularidade procedimental, já que nada se prova sobre como e para que se utilizaram supostos servidores adicionais”