Esta terça-feira (10), um dia após a destituição de Martín Vizcarra da presidência do Peru, milhares de pessoas foram às ruas em várias cidades do país para criticar a forma como a mudança no poder aconteceu, e para acusar o político Manuel Merino de liderar um golpe contra o mandatário deposto.
Merino era o presidente do Congresso até esta segunda-feira (9), cargo que lhe permitiu comandar justamente a votação que determinou a saída de Vizcarra da presidência, ao ser aprovada uma moção que acuso o ex-presidente por suposta “incapacidade moral” para governar, devido ao seu envolvimento em um esquema de corrupção na construção de um hospital, quando ele era governador regional da província de Moquegua, há 7 anos atrás.
Com a destituição, Merino assumiu o poder, já que era o nome seguinte na linha de sucessão. Para entender melhor essa situação, é preciso lembrar que Vizcarra foi eleito em 2016 como vice-presidente, na chapa de Pedro Pablo Kuczynski, um economista ultraliberal que presidiu o Peru até março de 2018, quando decidiu renunciar para não ser envolvido em uma investigação por corrupção, cedendo o cargo a Vizcarra.
A decisão do Congresso gerou uma onda heterogênea nas ruas. Alguns foram para apoiar o deposto Martín Vizcarra, mas a maioria das milhares de pessoas vistas em cidades como Lima, Cuzco, Arequipa, Trujillo, Chiclayo, Huancayo e Iquitos tinha como principal alvo o novo presidente, Manuel Merino, acusado de “golpista” pelos manifestantes.
“Merino não me representa” é o lema dos mobilizados, presente não só nos gritos como também nos cartazes que se observam nas ruas, e até em algumas pichações recentes nas grandes cidades.
Alguns meios de imprensa e líderes sociais também estão denunciando uma forte repressão policial contra os manifestantes, especialmente em Lima e Cuzco.
Merino é conhecido como uma espécie de Michel Temer local, o que torna mais curioso que tenha chegado à presidência com uma manobra política parecida àquela que levou à queda de Dilma Rousseff no Brasil, em 2016.
A imprensa peruana o descreve como um líder discreto mas com grande influência no Poder Legislativo – forma parte do Congresso desde 2001, mas só passou a presidi-lo neste 2020.
Atualmente, ele faz parte da aliança PP (Peru Possível), identificada com o ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006), mas em seus inícios na política, durante as duas últimas décadas do Século XX, formou parte do partido AP (Ação Popular). As duas legendas são consideradas de centro-direita neoliberal, embora o próprio Merino tenha um perfil ligado a grupos conservadores católicos.