Acordo entre Argentina e México cria primeira agência espacial latino-americana

Enquanto Jair Bolsonaro entrega a soberania da base de Alcântara aos Estados Unidos, os dois mais importantes governos progressistas da região decidiram “apostar no desenvolvimento de tecnologia própria”, segundo o chanceler mexicano

Alberto Fernández e Andrés López Obrador (foto: Télam)
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A América Latina viveu, nesta sexta-feira (9), o nascimento da sua primeira agência espacial regional: a ALCE (Agência Latino-Americana e Caribenha do Espaço).

A iniciativa é o principal resultado de um acordo assinado nesta mesma sexta entre dois dos maiores países da região, México e Argentina, que também se caracterizam por serem os dos principais governos progressistas da América Latina na atualidade – liderados por Andrés López Obrador e Alberto Fernández, respectivamente.

Segundo o chanceler mexicano Marcelo Ebrard, “o compromisso que assinamos com a Argentina para a criação da ALCE é um primeiro passo, que queremos estender depois a todos os membros da CELAC”. A CELAC é a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, da qual o Brasil se afastou em janeiro de 2020, por decisão do ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores.

“Estamos construindo um futuro hoje, desenvolvendo nossa própria tecnologia. Estas são boas notícias (…) Quanto maior a coesão na América Latina e no Caribe, maior será nossa autonomia relativa e a possibilidade de negociação no mundo. É uma questão geopolítica e estratégica”, comentou Ebrard, em uma série de tuítes.

https://twitter.com/m_ebrard/status/1314597582098833416

A iniciativa prevê que as agências de cada país latino-americano façam contribuições a partir de uma mesma agência regional, que além de explorar o espaço, ajudará a compartilhar imagens de satélite, com o propósito de observar o planeta.

Um dos responsáveis pelo projeto será Javier López Casarín, presidente do Conselho Técnico da Agência Mexicana de Cooperação para o Desenvolvimento Internacional (AMEXCID), para quem o ALCE marcará “uma nova etapa em que a região entra em um caminho de busca do conhecimento e a favor da humanidade”.

Do lado argentino, o responsável será Diego Hurtado, secretário de Planejamento e Políticas em Ciência do Ministério da Ciência da Argentina. “Nosso país tem grandes expectativas da possibilidade de avançar em colaboração com os países da região”, comentou o cientista.

A iniciativa contrasta com a postura do governo brasileiro, que se caracteriza por seguir o caminho contrário, que é o da dependência tecnológica e entrega da soberania, situações evidenciadas na entrega aos Estados Unidos do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, medida que, segundo o presidente Jair Bolsonaro, levou o país a “entrar no seleto grupo de nações que abrigam lançamentos de foguetes privados”, embora isso não renda nenhum benefício direto ao país.