A segunda onda da pandemia de coronavírus na Europa relançou o debate no Velho Continente sobre se apostar ou não na teoria da “imunidade de rebanho” para solucionar de vez o problema. Diante dessa possibilidade, um grupo de 80 cientistas, de diferentes países, resolveu publicar um manifesto na revista The Lancet, uma das mais conhecidas publicações científicas do mundo, com fortes críticas à essa ideia.
O manifesto foi baseado na “Declaração de Great Barrington”, escrita por três famosos epidemiologistas – Sunetra Gupta, da Universidade de Oxford, Jay Bhattacharya, da Universidade de Stanford, e Martin Kulldorff, da Universidade de Harvard –, e apoiada por outros 80 especialistas em virologia e epidemiologia.
A declaração é endereçada aos governos da Europa e do Hemisfério Norte, para que não acreditem na teoria da imunidade de rebanho. O documento apresenta uma estimativa, baseada no fracasso dessa teoria na Suécia, e projeta que se a mesma estratégia fosse adotada no mundo inteiro, ao menos 77 milhões de pessoas já teriam morrido de covid-19 (cerca de 1% da população mundial).
Com esses números, a pandemia do novo coronavírus já poderia ser considerada uma das mais devastadora da história, superaria a da gripe espanhola (que matou cerca de 50 milhões de pessoas, no início do Século XX), e se aproximaria da peste bubônica (que vitimou entre 70 e 200 milhões de pessoas no Século XIV). Um dos maiores defensores da teoria da “imunidade de rebanho” no mundo é o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que várias vezes mencionou o modelo sueco como seu preferido.
Favorável a uma política de abertura total das atividades, sem se importar com a propagação do vírus, Bolsonaro gerou conflito com governadores que o contestaram e até demitiu seu primeiro ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, por ser favorável às quarentenas e ao uso de máscaras. Atualmente, seu país é o terceiro com maior número de infectados por covid-19 (mais de 5 milhões) e o segundo com maior número de mortes (152 mil).