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Documentos divulgados com exclusividade pelo jornalista Jamil Chade, do Uol, neste domingo (1), revelam que o Vaticano está pronto para assumir uma posição dura em defesa da Floresta Amazônica e dos povos tradicionais durante o Sínodo da Amazônia. Esboços classificam a região como um lugar de "violência, o caos e a corrupção". A firmeza da Igreja Católica se choca coma a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro, considerada complacente com os desmandos e o avanço do desmatamento na região.
O sínodo, previsto para outubro, já foi considero pelo presidente como um "ato de resistência" ou "conferência da oposição" e fez com que o Vaticano e o Itamaraty realizassem uma série de reuniões para amenizar o clima hostil do governo com os bispos católicos.
Durante as consultas do Vaticano a comunidades amazônicas, se concluiu que "as comunidades consultadas esperam que a Igreja se comprometa no cuidado da Casa Comum e de seus habitantes, que defenda os territórios e que ajude os povos indígenas a denunciar o que provoca morte e ameaça os territórios". A partir disso, uma série de sugestões foram elaboradas e esboçadas para serem avaliadas durante o encontro de outubro.
Entre as propostas, segundo Jamil Chade, está a de que os religiosos que atuam na região "abracem as causas sociais, de reforma agrária e ambientais, se distanciando do poder político". Além disso, há a recomendação de que a própria Igreja "assuma sem medo a aplicação da opção preferencial pelos pobres na luta dos povos indígenas, das comunidades tradicionais, dos migrantes e dos jovens, para configurar a fisionomia da Igreja amazônica".
O Vaticano não defende, como alguns países europeus o fizeram, de colocar a Amazônia sob status "internacional" e reforça que respeita a soberania brasileira, mas afirma que o modelo de exploração vigente não pode ser aceito, tanto por questões ambientais, quanto por direitos humanos.
"A vida na Amazônia está ameaçada pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazônica [...] A ameaça à vida deriva de interesses econômicos e políticos dos setores dominantes", diz o texto denominado Instrumentum Laboris.
Esse texto traz ainda traz ainda os "três clamores da população amazônica": "A falta de reconhecimento, demarcação e titulação dos territórios dos indígenas; A invasão dos grandes projetos chamados de "desenvolvimento", mas que na realidade destroem territórios e povos; a contaminação de seus rios, de seu ar, de seus solos, de suas florestas e a deterioração de sua qualidade de vida, culturas e espiritualidades".
A Santa Sé avalia que "estão levando a Amazônia rumo a um ponto de não retorno" e que é necessário que se assumam posições firmes e que sejam feitas denúncias. "Atualmente, questionar o poder na defesa do território e dos direitos humanos significa arriscar a vida, abrindo um caminho de cruz e martírio. O número de mártires na Amazônia é alarmante (por ex., somente no Brasil, de 2003 a 2017, foram assassinados 1.119 indígenas por terem defendido seus territórios)", diz outro documento.
A saída seria "aliar-se aos movimentos sociais de base, para anunciar profeticamente uma agenda de justiça rural que promova uma profunda reforma agrária, incentivando a agricultura orgânica e agroflorestal". "A Igreja não pode permanecer indiferente mas, pelo contrário, deve contribuir para a proteção dos defensores de direitos humanos, e fazer memória de seus mártires, entre elas mulheres líderes como a Irmã Dorothy Stang", diz ainda.
Jair Bolsonaro é um grande crítico da reforma agrária e defende a flexibilização da demarcação das terras indígenas, colocando as posições em conflito com a agenda do presidente, embasada por interesses de ruralistas e pelo "desenvolvimento" da região. “Eu não sendo obrigado, não tem mais reserva indígena no Brasil. Vamos rever as que estão demarcadas, com laudos e muita suspeição de fraude no passado”, disse. “É muita terra para pouco índio. Qual o interesse por trás disso?”, completou.
Confira a reportagem completa no Uol