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A ditadura de Jeanine Áñez, que assumiu irregularmente o poder na Bolívia depois do golpe de Estado contra Evo Morales, em 10 de novembro, vem fazendo um esforço enorme para não evidenciar o racismo dos seus representantes, mas às vezes escapam medidas como as que foram decretadas nesta segunda-feira (9).
Pela manhã, se descobriu um documento da Direção Geral de Cerimonial de Estado. Trata-se de um decreto com respaldo presidencial, no qual proibia que o pessoal diplomático e administrativo usasse vestimentas indígenas, como ponchos, awayos e polleras, nos trabalhos diários e especialmente em eventos oficiais.
O documento impunha, como trajes obrigatórios para as cerimônias de Estado, o paletó e gravata em cores escuras, no caso dos homens, e vestido ou traje formal inteiro, no caso das mulheres. O documento foi assinado por Marcelo Arias de la Vega, diretor de cerimonial da atual ditadura.
A reação dos movimentos sociais ligados ao mundo indígena não demorou para chegar. A proibição fazia a Bolívia, país com maior população indígena da América do Sul (em termos proporcionais) regredir para antes da Constituição de 2009, que instituiu a plurinacionalidade do Estado e o respeito aos aspectos culturais de todas as nações indígenas do país. Até então, tanto as vestimentas quanto os idiomas indígenas eram completamente rechaçados no país.
Quando os protestos das organizações indígenas sobre a proibição das suas vestimentas típicas no cerimonial começaram a repercutir na comunidade internacional, o Ministério de Relaciones Exteriores da ditadura de Áñez se apressou em deixar o decreto “sem efeito”.
Segundo um comunicado publicado no final da tarde desta mesma segunda-feira (9), o decreto da Direção Geral de Cerimonial de Estado foi “unilateral”. A justificativa é curiosa, já que órgãos encarregados de cerimoniais não costumam ter autonomia para tomar decisões unilaterais.
O Ministério de Relações Exteriores também garantiu que “os trajes tradicionais são usados diariamente pelo nosso pessoal, sem nenhuma restrição”.
No entanto, o presidente deposto Evo Morales reagiu ao decreto, acusando a ditadora Áñez de “tentar desmantelar o Estado Plurinacional e restaurar o Estado colonial”.
Além deste ataque contra as vestimentas típicas, os seguidores da direita que impulsou o golpe também são conhecidos por seus ataques contra a whipala, a bandeira dos povos indígenas que foi adotada como símbolo nacional obrigatório nas repartições públicas, junto com a promulgação da Constituição de 2009, mas que têm sido queimadas por grupos de direita em diversas ações, desde o golpe de Estado de 10 de novembro.