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[caption id="attachment_134103" align="alignnone" width="800"] O presidente italiano Sergio Mattarella vem sendo alvo de pedido de impeachment - Foto: Wikimedia Commons[/caption]
Por Vinicius Sartorato*
Como uma república parlamentarista, a formação de um governo na Itália e a indicação de um Primeiro-Ministro dependem do resultado das eleições parlamentares, tal como a aprovação do Presidente da República, Chefe de Estado e guardião da Constituição.
Após quase três meses de impasse diante do resultado da eleição de 4 de março último, nenhum partido conquistou maioria absoluta na eleição, dando prioridade a negociar ao primeiro colocado, o Movimento 5 Estrelas (M5S) (32,7%), liderado pelo humorista, Beppe Grillo, e o jovem político, Luigi Di Maio. Seguidos pelo Partido Democrático (PD) (18,7%) de Matteo Renzi; a Liga Norte (LN) (17,4%) de Matteo Salvini; e a Força Itália (FI) (14%) de Silvio Berlusconi.
Após vetar qualquer participação de Renzi (PD) ou Berlusconi (FI) na formação do novo governo, ambos ex-premiers, vistos como ameaças, o M5S buscou uma aproximação com a LN. Com muitas diferenças sobre política econômica, de trabalho, interior, imigração e algumas coincidências em especial no ceticismo europeu, as duas últimas semanas foram marcadas pela apresentação de um “Contratto per Il Governo del Cambiamento” e a indicação do jurista ligado ao M5S, Giuseppe Conte, como Primeiro-Ministro.
Não obstante a aparente certeza do novo governo, a indicação de um professor universitário de 81 anos, ligado a LN - Paolo Savona, como ministro da economia – um defensor de um ITAEXIT e contrário à moeda comum, foi vetada pelo Presidente da República, Sergio Mattarella, fato que gerou uma reviravolta na história.
A inesperada situação implodiu a formação do novo governo dada como certa. O premier, recém-indicado há menos de uma semana, renunciou. Imediatamente, os líderes dos partidos, Luigi Di Maio (M5S) e Matteo Salvini (LN), foram a público protestar contra a atitude do Chefe de Estado e indicaram que solicitarão seu impeachment.
O Presidente Sergio Mattarella, por sua vez, convocou Carlo Cottarelli, um defensor da política de austeridade. Um economista, que fez parte do então governo Letta (2013), aplicando medidas econômicas e fiscais duras após a crise financeira de 2011. Mais do que isso, um personagem que trabalhou no Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco d’Itália e a estatal petroleira Eni.
Com o colapso do governo populista e a indicação de Cottarelli, é provável que o país retorne às urnas no próximo semestre, dado que será considerado como um “governo técnico”, ou seja, um governo de exceção, sem maioria política, dada a “impossibilidade” de formação de um governo com essas características. Com isso, o impasse da formação de um novo governo italiano continua e após tal reviravolta.
Em resumo, é bem provável que o governo siga a linha do atual governo de Paolo Gentiloni (PD), de centro-esquerda, moderado, pró-EU, até a próximo eleição. Fato que, se por um lado traz calma ao mercado financeiro, por outro, traz também, uma inflamação do populismo eleitoral do M5S e a LN - e quem sabe da população. Se a possível paralisia não virá por um governo fraco, com certeza a tensão deve aumentar com mais um “governo técnico”.
*Vinicius Sartorato é sociólogo, mestre em Políticas de Trabalho e Globalização pela Universidade de Kassel (Alemanha)