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Por Vinicius Sartorato*
Com uma história extremamente interessante e rica, o México é um dos países mais visitados do mundo (10º - 2007), assim como lidera a lista de patrimônios da Unesco na América Latina, com 31 locais reconhecidos pela entidade ligada à ONU.
Com a maior população de língua espanhola do mundo, inclusive à frente da Espanha, é a 2ª maior economia latino-americana, só atrás do Brasil. Portanto, trata-se de um país rico em recursos naturais, uma economia em desenvolvimento e com uma diversidade étnico-cultural enorme. São 120 milhões de pessoas e mais de 67 línguas nativas.
Entretanto, apesar de suas belezas e riquezas, é uma nação que ainda sofre com problemas típicos latino-americanos, como a pobreza, a violência, o narcotráfico, a corrupção, inflação, desemprego, a falta de infraestrutura básica, bem como baixos níveis de democracia, liberdade econômica, política e de imprensa. Somado isso, o país está localizado ao sul dos Estados Unidos de Donald Trump, que dispensa qualquer apresentação.
Após o fim da sangrenta Revolução Mexicana (1910-20), que teve entre seus líderes nomes como Zapata e Villa e cerca de 2 milhões de mortos, a vida política do país acostumou-se a ver o revezamento por 70 anos de presidentes do PRI (Partido Revolucionário Institucional – de direita conservadora), mesma agremiação do atual presidente da República – Enrique Peña Nieto.
Tal revezamento só foi interrompido por um período (2000-2012) comandado pelo PAN (Partido da Ação Nacional – de direita liberal), que entre seus principais expoentes teve os ex-presidentes da República, Vicent Fox, ex-presidente da Coca-Cola no país, e seu sucessor, o advogado Felipe Calderón.
Para muitos, a eleição presidencial, marcada para o dia 1º de julho, será um "divisor de águas", e por isso surge com muitas polêmicas, começando pela liderança inédita de um candidato de esquerda: Andrés Manuel López Obrador, mais conhecido pela sigla AMLO. Ele é ex-prefeito da capital, a Cidade do México, e promete dar uma guinada na vida política do país, com um estilo e retórica que é associada ao ex-presidente brasileiro Lula.
Seguindo o vácuo do impopular governo de Peña Nieto – com uma aprovação de apenas 12% segundo últimas pesquisas - Obrador vem liderando de forma consistente as pesquisas eleitorais e promete mudar principalmente a vida da classe trabalhadora mexicana.
Enquanto o atual presidente sofre com problemas econômicos como a inflação, desvalorização do peso mexicano, lento crescimento, bem como acusações diversas de corrupção e relações complicadas com meios de comunicações e até cartéis do narcotráfico, Obrador vem de uma trajetória de resistência popular, com propostas que incomodam os poderosos do meio político e econômico.
Após 23 anos no PRD (Partido da Revolução Democrática – de centro-esquerda), sendo um dos seus principais expoentes, o ex-prefeito da Cidade do México criou em 2014 a agremiação de esquerda MORENA (Movimento Regeneração Nacional) e vem liderando a corrida presidencial, com cerca de 45% das intenções de voto, 15% a mais que o segundo colocado, Ricardo Anaya (PAN+PRD). Em terceiro lugar está o candidato governista, José Antonio Meade (PRI), com 18%.
Acusado de ser um “chavista” por seus adversários, a campanha eleitoral vem sendo caracterizadas pelos ataques a AMLO e seu campo político. Dentre suas propostas, o ex-prefeito da Cidade do México promete colocar o país “na sua própria agenda”, criticando a submissão aos EUA, a NAFTA - acordo comercial de 1994 - e ao FMI. Com uma campanha que propõe um novo projeto de desenvolvimento nacional, com valorização da democracia e da classe trabalhadora, Obrador promete fortalecer o mercado nacional, acabar com os chamados “gasolinaços”, bem como propõe o fim de privilégios para burocratas e o fim de benefícios para ex-presidentes, como pensões vitalícias.
Em contraposição, o candidato apoiado pelo ex-partido de Obrador, em 2º lugar, Anaya (PAN+PRD) vem adotando um discurso de mudança, anti-corrupção, porém mais moderado, pró-mercado com medidas pontuais de distribuição de renda, como um programa de renda mínima para combater a pobreza, bem como investigações duras contras as denúncias sobre todos ex-presidentes ainda vivos.
*Vinicius Sartorato é sociólogo, mestre em Políticas de Trabalho e Globalização pela Universidade de Kassel (Alemanha)