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Presidente norte-americano colocou em pé de igualdade racistas e anti-racistas, o que reforçou ainda mais as críticas sobre seu comportamento.
Por Vinicius Sartorato*
A marcha Unite Right, na cidade de Charlottesville (Estado da Virgínia), no último dia 12 de agosto, colocou Donald Trump mais uma vez encurralado por suas próprias palavras. A marcha - ilegal - reuniu diversas tendências da extrema-direita norte-americana, sob a ideia de impedir a retirada de uma estátua do General Confederado, Robert Lee, um símbolo da Guerra Civil e defensor da escravidão no país.
A marcha, que reuniu centenas de pessoas, acabou com uma morte e dezenas de feridos. Marcada por diversos embates entre grupos opositores, foi visto um festival de palavras e símbolos de ódio. Porém, mais do que isso, uma clara predisposição de conflito, marcada pela exposição de capacetes, escudos, machados e até mesmo armas de fogo.
Dentre os coletivos de extrema-direita, advindos de várias partes do país, agrupamentos neonazistas, fascistas, identitários, supremacistas brancos, extremistas religiosos, em geral homens que entoavam palavras de ordem contra negros, latinos, judeus e muçulmanos. Aparentemente nada de novo na história norte-americana, para além de ser a maior mobilização desse tipo em muitos anos.
Entretanto, é aí que entra Donald Trump na história. Diferentemente do que qualquer outro antecessor normalmente faria, o presidente norte-americano condenou a violência, colocando "em pé de igualdade" racistas e anti-racistas. O coro mundial contra a tentativa "de justificar o injustificável" foi imediato.
Essa postura o levou ao isolamento completo no mundo político – fato recorrente ultimamente. Inclusive, entre líderes da direita norte-americana e internacional, como Paul Ryan, John Mccain, Marco Rubio e Arnold Schwarzenegger. Os ex-presidentes G.W. Bush, Bill Clinton e Barack Obama. Entre outros líderes, Theresa May, Benjamin Netanyahu, Angela Merkel, Justin Trudeau, e Antônio Guterres (secretário-geral da ONU), todos argumentando não haver margem de equivalência entre tais grupos.
Tal situação, além de aumentar o isolamento de Trump, reforçou críticas sobre seu comportamento. Desde a campanha eleitoral, o milionário tem promovido estereótipos e generalizações, acabando por ser visto como um "perigo", que estimula e negligencia o crescimento de grupos de ódio no país. Segundo informações do Southern Poverty Law Center, os supremacistas brancos são os maiores responsáveis pelos ataques terroristas no país.
Neste sentido, ficam algumas perguntas para reflexão: 1) Quais são os limites do direito à expressão? 2) Donald Trump está correto em comparar racistas e anti-racistas? 3) Estátuas, como a da Virgínia, devem ser retiradas ou mantidas?
Em síntese, a chamada “Era da Pós-Verdade”, que vem questionando valores civilizatórios, democráticos e éticos nos últimos anos, ao evocar o direito à liberdade de expressão para intimidar e advogar a destruição de outros grupos, realiza crimes. Mais do que isso, potencializa disputas e promove uma “onda conservadora” que relativiza o racismo, a xenofobia e o extremismo religioso pelo mundo.
*Vinicius Sartorato é sociólogo e mestre em Políticas de Trabalho e Globalização (Universidade de Kassel – Alemanha)
Foto: Commons